quarta-feira, julho 30, 2014

O Estranho (L.F.Riesemberg)



Rômulo esperava seu ônibus no terminal, vendo as pessoas chegando e partindo, até que reconheceu um rosto. Era um homem comendo um pacote de salgadinhos enquanto também aguardava um ônibus. Talvez fosse quem ele estava acreditando que era – um antigo professor da faculdade – mas também poderia ser alguém muito parecido. Já fazia treze anos que não se viam.
Pensou em ir até lá e arriscar uma conversa, para ver se ele se lembrava. Antes de dar o primeiro passo, resolveu observar um pouco mais. O homem tinha um rosto muito parecido com o do velho professor. Apenas a barba é que estava grisalha ao invés de preta. Isso fez Rômulo lembrar algo que o fez rir: haviam apelidado o professor de Lobisomem, devido à barba e às grandes sobrancelhas negras.
Como era mesmo o nome dele? Esforçava-se, mas não conseguia lembrar. O que fazer então?
A esta altura, o homem já havia reparado que Rômulo não parava de observá-lo. Começava a estranhar os insistentes olhares, o que fez Rômulo pensar: “Muito bem, agora temos que ir até lá e esclarecer tudo”.
Deu o primeiro passo, e antes de completar o segundo, o ônibus do homem chegou e o recolheu. Rômulo ficou parado no meio da via, vendo-o sentar-se em um assento enquanto o ônibus desaparecia rua abaixo. Ficou frustrado pela dúvida que permaneceria com ele. Seria o professor ou um sósia?
Olhou o relógio e voltou ao seu ponto. O ônibus que esperava estava atrasado e ele voltou a ficar olhando as pessoas. De repente, de forma inesperada, viu algo que o fez limpar os óculos na camisa para certificar-se de que não era uma ilusão de ótica. O velho professor, o Lobisomem, ou quem quer que fosse, continuava lá no terminal, e agora era ele quem o observava de longe. Não se tratava de outra pessoa: era o mesmíssimo sujeito que, há pouco, havia partido dentro do ônibus.
Rômulo estremeceu. Não sabia o que fazer, mas algo lhe disse para afastar-se daquele indivíduo. Não parecia mais ser uma boa ideia encontrá-lo.
Quando percebeu que o homem, que não parava de encará-lo, deu o primeiro passo em sua direção, finalmente o ônibus que Rômulo esperava chegou e ficou entre os dois.
Enquanto o ônibus partia, o homem permaneceu olhando fixamente, até ser confundido com o resto da multidão.

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