Cassiano
foi um colega de colégio quando tínhamos quinze anos. Ele gostava de aviões.
Uma vez tentou fazer com que eu dividisse com ele o valor de um foguete de
brinquedo que prometia atingir uma altitude extraordinária. Mas acabei não lhe
ajudando, para não gastar minha mesada com uma brincadeira que só duraria alguns
segundos.
Passamos
três anos como amigos. Não melhores amigos, mas amigos. Rimos juntos,
principalmente da vez em que ele me devolveu um cd do Motorhead, que eu lhe
havia emprestado, sem perceber que dentro da capa estava um do Willie Nelson. E
também nos divertimos quando ele me contou que foi sozinho a um restaurante,
almoçou e, ao ir pagar a conta, descobriu que aquilo era uma festa familiar
fechada ao público.
Isso
tudo aconteceu há mais de dez anos. Recentemente lembrei essas histórias e as
contei para novos amigos. Eles ouviram atentamente, riram aquele riso doído, e
então dedicamos um brinde a essas memórias.
Falar
sobre Cassiano o traz de volta à vida. Assim como olhar velhas fotografias faz
com que tudo o que já não mais existe, volte a existir.
Lembro
da última vez que vi meu amigo. Ele estava sozinho na rua. Paramos, lembramos
das nossas velhas histórias de sempre, e depois nos separamos, como se logo fôssemos
nos rever. Esse dia ficou gravado em mim como o final de um filme, mas não foi
um bom final. Poderia ter sido mais intenso, cheio de emoção, como um
verdadeiro adeus de amigos deve ser. E isso me ensinou que, a cada momento,
posso estar vivendo o final de um filme. É por isso que, se eu soubesse o que
sei hoje, teria usado minha mesada para ajudá-lo a comprar o foguete, quando
tínhamos quinze anos.
Eu estava errado: aquele voo não duraria somente alguns segundos, como imaginei. Até hoje estaria subindo ao céu azul, sob os raios dourados do Sol, e então nosso breve sorriso estaria gravado eternamente em minha memória, como uma fotografia.
Eu estava errado: aquele voo não duraria somente alguns segundos, como imaginei. Até hoje estaria subindo ao céu azul, sob os raios dourados do Sol, e então nosso breve sorriso estaria gravado eternamente em minha memória, como uma fotografia.
As
memórias mais tristes são aquelas às quais não demos o direito de nascer.
Excelente !!
ResponderExcluirÓtimo conto, fictício ou não.
ResponderExcluirGostei!
ResponderExcluirLindo o conto
ExcluirFantástico, parabéns!!
ResponderExcluirFantástico, parabéns!!!
ResponderExcluirEsplêndido!!! Sinto um pesar por tê-lo descoberto somente agora. Parabéns pelo excelente trabalho.
ResponderExcluirQue lindo!! Parabéns
ResponderExcluirCara existem pessoas que tem um talento incrível,parabéns!juro perfeito!
ResponderExcluirObrigado!
ExcluirAmei! lindo conto. Me fez lembrar de uma perda irreparável.
ResponderExcluirMaravilhoso!!!
ResponderExcluirAMEIIIIIII...Me tocou... é o principal valor da literatura. PA-RA-BÉNS! GRATIDÃO 🙏
ResponderExcluirAmeeeeeiiiiiii
ResponderExcluirLinduu
ResponderExcluirachei mt triste a morte de cassiano
ResponderExcluirO conto se torna uma belíssima homenagem a um amigo tão especial! Cheguei a me emocionar! Muito bem escrito, parabéns!
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