Numa
rara tarde de nevasca, o pequeno Jeremy avistou pela janela da sala algo bastante
incomum. Resistindo a intensas rajadas de vento, pairava a certa distância um
enigmático boneco de neve, com nariz de cenoura e galhos secos se
fazendo de braços.
“Veja,
mãe! Um homem de neve”, disse, animado. Mas Dolores, ao ouvir tais palavras,
teve como que um sobressalto, e correu olhar através do vidro. “Quem fez isso,
mãe? Eu pensei que não tinha outras crianças aqui”.
“E
não tem mesmo”, disse ela, afastando o filho da janela. “Deve ter sido algum
turista. Vá brincar no quarto, que lá é mais quente”.
O
garoto ainda olhou mais uma vez e acenou ao boneco, antes da mãe fechar a cortina.
À
noite, antes de dormir, Jeremy foi ver mais uma vez pela janela. Estava escuro
lá fora, e o ar transportava velozmente grandes partículas de neve. O boneco
continuava em pé, olhando para a casa, de braços abertos. "Eu queria você mais perto", pensou o menino.
Na
manhã seguinte, na primeira espiada do dia à paisagem invernal, a mulher suspirou em
angustiante reação ao que observou. Jeremy chegou em seguida, correndo com suas
pantufas, e não houve como impedi-lo. “Olha só!”, disse empolgado, em
contraponto à apreensão materna. Agora
no quintal da casa, a poucos metros da janela, expunha-se o radiante boneco,
abrindo os braços de paus como que desejoso de um abraço. “Que legal, mãe! Ele
veio ficar com a gente!”.
“Não
repita isso, Jeremy! Alguém entrou em nossa propriedade. Vou avisar a polícia!”.
E ela tentou, mas as linhas telefônicas estavam interrompidas pelo mau tempo, os isolando do resto do povoado.
“Está
tudo bem, mãe. Eu sempre quis fazer um desses, mas você nunca me deixou ir
brincar na neve”.
“Sim,
porque te amo e quero te proteger”.
“Mas
eu já sou grande. Tenho mais de um metro de altura”, disse o rapazinho.
E Dolores riu, sentida, e o abraçou em um quente afago. “Eu sei, filho, e sempre
vai cuidar de mim, não é?”.
A
neve insistia em cair lá fora, e ambos permaneceram abraçados no sofá, cada um
dando um significado diferente à estranha presença daquele boneco no terreno. Há
tempos ela resistia àquela conversa, mas naquele momento tudo convergia para
que ela se abrisse com o filho e consigo mesma.
-Jeremy,
se quiser falar sobre o papai, acho que finalmente estou pronta.
E
nos olhos do garoto, Dolores reviu a cena que sempre insistira em ocultar nas masmorras
de sua alma. Já se passavam quatro anos! Naquela manhã Phillip beijara carinhosamente o bebê,
que dormia confortavelmente no berço, e foi em direção à porta. “Aonde vai,
querido? A neve ainda está forte”, havia dito ela. E, sonhador, o esposo respondeu sorrindo: “Vou
fazer um boneco de neve para o Jeremy”. "Não
vá longe”, ela suplicou. “Não irei. Só preciso encontrar uns galhos secos para fazer os braços”, prometeu,
concluindo com um leve beijo em seus lábios.
E Dolores havia ficado olhando pela janela, lívida, enquanto ele desaparecia no imenso branco do horizonte.
-Como ele era, mamãe?
Ela voltou ao presente.
-Seu pai prometeu que nunca nos deixaria, meu amor, e que sempre te faria feliz.
-É mesmo? Ele devia ser muito legal - disse o garoto, imaginando.
-Sim - falou Dolores. - E ele sempre cumpria suas promessas...
-Seu pai prometeu que nunca nos deixaria, meu amor, e que sempre te faria feliz.
-É mesmo? Ele devia ser muito legal - disse o garoto, imaginando.
-Sim - falou Dolores. - E ele sempre cumpria suas promessas...
Top 5, hein!!! Muito bom.
ResponderExcluirImpressionante como você consegue colocar tanto sentimento em uma pequena história. Parabéns.
Prezado L.F. Riesemberg, vc se supera a cada conto; quanta sensibilidade e fantasia, que nos leva a entrar e vivenciar cada estória que vc compõe. Super parabéns à vc... agora e sempre!!!
ResponderExcluirDemais.. ..
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