Karina havia descoberto a melhor
brincadeira do mundo. Era algo muito divertido, que podia ser feito sem a ajuda
de ninguém, em qualquer hora e lugar. Bastava encontrar uma oportunidade,
alguém distraído, e então zapt! Ela pulava na frente ou nas costas da pessoa e
lhe aplicava um tremendo susto.
O planejamento da coisa era boa
parte da diversão, mas a alegria só era completa quando as vítimas realmente se
assustavam. Um dos maiores prazeres da menina era ver a engraçadíssima cara de
horror que faziam.
-Bú!
-Ui, não faça mais isso, Karina!
– disse seu pai, assim que ela o surpreendeu na cozinha.
Ela foi se aperfeiçoando, elaborando
estratégias para pegar as vítimas realmente vulneráveis. Para isso, preferia atacar
em horas de silêncio, locais sombrios e cômodos desertos.
-Bú! – gritou para o irmão
grandalhão, que estava tendo um momento introspectivo na sala de estar.
Ele disfarçou, mas as pernas
tremiam e o coração gelou de susto. Qualquer um se espantaria com uma menina emergindo
do nada em um canto escuro da sala. E ela, aos pulos, saiu gritando vitoriosa:
“Dei um susto nele! Dei um susto nele!”.
Não era comum que os mais velhos
revidassem, mas seu irmão não deixaria por menos. Alguns dias depois, Karina o
ouviu conversando, dizendo que havia preparado uma vingança, e que era a vez de
alguém provar do seu próprio veneno.
“Estaria falando de mim? Ah, tudo
bem”, pensou ela. “Posso me prevenir e não levar susto algum. Então eu é que
vou rir da cara dele”, garantiu.
Uma noite preta, a lua cheia no
céu, e Karina estava de pijama no quarto, preparando-se para dormir. Quando apagou
a luz, ouviu pegadas no quintal.
- Ai que meeeedo! – zombou.
Havia uma sombra na janela. Ela
levantou para abrir a cortina e mostrar sua coragem.
Parado do outro lado do vidro havia
um velho espectro de olhar macabro, nariz podre e dentes sangrentos. Parecia um
zumbi estropiado, ou uma múmia desengonçada. Era, enfim, algo meio vivo, meio morto.
E sorria para ela, chamando-a para ir com ele.
Ela não imaginava que o irmão
poderia pensar em algo tão assustador. Era até ruim ficar olhando para aquela
coisa ali em pé. Se ela não soubesse que era só o seu irmão tentando lhe amedrontar,
talvez até gritasse de medo. Mas ela era corajosa, e não podia se render, ou
todos ririam dela. “Não, eu não vou cair nessa. Não mesmo. É só uma fantasia de
monstro. Eu posso fazer melhor. Sim, eu posso assustar bem melhor que isso”.
-Vou te ensinar a dar sustos de
verdade – disse a coisa.
-Agora chega, ok? Por que você
não para de me olhar desse jeito e vai embora?
No quarto ao lado, o irmão roncava
tranquilamente.
Legal, gostei. Vou compartilhar com a Ka, pois sábado à noite ela deu um susto no João.
ResponderExcluirho ho ho você é mau
ExcluirMuito legal!! Parabens!!!
ResponderExcluirL.F., deste conto eu já não gostei tanto, pois o achei um pouco inconclusivo no final. Perdoe-me a boa crítica construtiva, mas eu acho que a estória teria ficado um pouco mais interessante se fosse prolongada, ainda que apenas para dar um pouco mais de dramaticidade ao enredo (sei lá, talvez c/ a Karina se defrontando fisicamente c/ o velho espectro...). Gde abç e parabéns!
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