terça-feira, junho 09, 2015

O Susto (L.F.Riesemberg)




Karina havia descoberto a melhor brincadeira do mundo. Era algo muito divertido, que podia ser feito sem a ajuda de ninguém, em qualquer hora e lugar. Bastava encontrar uma oportunidade, alguém distraído, e então zapt! Ela pulava na frente ou nas costas da pessoa e lhe aplicava um tremendo susto.

O planejamento da coisa era boa parte da diversão, mas a alegria só era completa quando as vítimas realmente se assustavam. Um dos maiores prazeres da menina era ver a engraçadíssima cara de horror que faziam.

-Bú!

-Ui, não faça mais isso, Karina! – disse seu pai, assim que ela o surpreendeu na cozinha.

Ela foi se aperfeiçoando, elaborando estratégias para pegar as vítimas realmente vulneráveis. Para isso, preferia atacar em horas de silêncio, locais sombrios e cômodos desertos.

-Bú! – gritou para o irmão grandalhão, que estava tendo um momento introspectivo na sala de estar.

Ele disfarçou, mas as pernas tremiam e o coração gelou de susto. Qualquer um se espantaria com uma menina emergindo do nada em um canto escuro da sala. E ela, aos pulos, saiu gritando vitoriosa: “Dei um susto nele! Dei um susto nele!”.

Não era comum que os mais velhos revidassem, mas seu irmão não deixaria por menos. Alguns dias depois, Karina o ouviu conversando, dizendo que havia preparado uma vingança, e que era a vez de alguém provar do seu próprio veneno.

“Estaria falando de mim? Ah, tudo bem”, pensou ela. “Posso me prevenir e não levar susto algum. Então eu é que vou rir da cara dele”, garantiu.

Uma noite preta, a lua cheia no céu, e Karina estava de pijama no quarto, preparando-se para dormir. Quando apagou a luz, ouviu pegadas no quintal.

- Ai que meeeedo! – zombou.

Havia uma sombra na janela. Ela levantou para abrir a cortina e mostrar sua coragem.

Parado do outro lado do vidro havia um velho espectro de olhar macabro, nariz podre e dentes sangrentos. Parecia um zumbi estropiado, ou uma múmia desengonçada. Era, enfim, algo meio vivo, meio morto. E sorria para ela, chamando-a para ir com ele.

Ela não imaginava que o irmão poderia pensar em algo tão assustador. Era até ruim ficar olhando para aquela coisa ali em pé. Se ela não soubesse que era só o seu irmão tentando lhe amedrontar, talvez até gritasse de medo. Mas ela era corajosa, e não podia se render, ou todos ririam dela. “Não, eu não vou cair nessa. Não mesmo. É só uma fantasia de monstro. Eu posso fazer melhor. Sim, eu posso assustar bem melhor que isso”.

-Vou te ensinar a dar sustos de verdade – disse a coisa.

-Agora chega, ok? Por que você não para de me olhar desse jeito e vai embora?

No quarto ao lado, o irmão roncava tranquilamente.

4 comentários:

  1. Gabriel Riesembergjunho 09, 2015 12:26 PM

    Legal, gostei. Vou compartilhar com a Ka, pois sábado à noite ela deu um susto no João.

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  2. Muito legal!! Parabens!!!

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  3. L.F., deste conto eu já não gostei tanto, pois o achei um pouco inconclusivo no final. Perdoe-me a boa crítica construtiva, mas eu acho que a estória teria ficado um pouco mais interessante se fosse prolongada, ainda que apenas para dar um pouco mais de dramaticidade ao enredo (sei lá, talvez c/ a Karina se defrontando fisicamente c/ o velho espectro...). Gde abç e parabéns!

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