Poderiam
ser quaisquer tipos de árvores. Não importaria se fossem mais baixas, com mais
galhos ou de uma folhagem diferente. Mas por algum motivo eram eucaliptos. Apenas
dois, um ao lado do outro, altos e belos, com as copas balançando ao vento.
Eu
tinha cinco anos quando reparei neles pela primeira vez, enquanto brincava
naquela praça. Sentei sozinho na gangorra e fiquei olhando aqueles dois
gigantes, e pensei que eles poderiam ser como pessoas, que enxergam, ouvem e
pensam. O único som que se podia ouvir era o dos galhos de um batendo nas
folhas do outro, como se estivessem dançando para mim.
Durante
toda a minha infância, nunca deixei de admirar aqueles dois eucaliptos que só
tinham um ao outro. Eu os vi lutando contra tempestades e permanecendo em pé
quando o sol voltava a iluminá-los. E, desde que cresci, toda a vez em que
passo por aquela praça tenho o hábito de admirá-los. “Vocês são parte da minha
história”, eu penso.
Mas
ser um adulto é muito duro, e há pouco tempo ocorreram alguns problemas muito
graves comigo. No auge do sofrimento, tive ímpetos de acabar com tudo,
inclusive com minha vida. Quando vi que nada mais dava certo e não havia outra
saída, saí sozinho numa noite dessas, sem rumo, caminhando pelas ruas. Quis o destino que, sem que eu planejasse,
fosse cair exatamente naquela praça, diante dos eucaliptos. Contemplei-os,
enormes, e perante aquela grandeza, minha pequenez ficou ainda mais evidente. Lembrei-me
de quando era criança e ia nos brinquedos daquele lugar, e passei a ser
torturado pelo sentimento de que desde então eu nunca tinha feito nada de bom
na vida. Eram apenas erros, tentativas frustradas e planos adiados.
Os
eucaliptos pareciam olhar para mim, um trapo de gente, e a carência de um
conforto me fez aproximar e abraçá-los. Envolvi-os em meus braços, primeiro um,
depois o outro e deixei que minhas lágrimas abundantes rolassem até o chão.
Fiquei lá, tendo apenas os dois amigos como testemunhas do meu pranto.
Depois
de um tempo ouvi uma voz. Em seguida, eram duas vozes, que produziam a melodia
mais bela que um mortal já ouviu. Compreendi que eram os eucaliptos cantando
para mim, em uma linguagem que não conheço. Diante da minha surpresa,
levantei-me, enxuguei as lágrimas e perguntei: “O que estão cantando?”. Algo
aconteceu e, de repente, passei a compreender tudo o que suas vozes diziam. Uma
delas falou: “Somos seus guardiões, Felipe. Estamos cuidando de tudo o que você
precisa”. Depois, a outra: “Daqui de cima vemos tudo, e já estamos te ajudando”.
Eu
mal podia crer, mas aceitava tudo, em silêncio. As árvores continuaram com sua
inconfundível cantiga: “Obrigado pelo amor com que pensa em nós, Felipe.
Estamos retribuindo seu sentimento”.
Ajoelhado
diante daquela maravilha, fechei os olhos e recebi uma agradável vibração, que
percorreu toda a minha pele e me revigorou completamente.
Quando
abri os olhos, eu ainda estava lá, diante dos dois eucaliptos, sentindo-me estranhamente
bem disposto. As primeiras luzes da manhã clareavam tudo ao redor, mas não se ouvia
mais a música das árvores. “Obrigado, meus amigos”, pensei, antes de me
despedir, decidido a tentar, mais uma vez, encontrar minha felicidade.
Gostei 👏🏻
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