Eric
brincava sozinho no quarto, depois de espalhar todos os brinquedos pelo tapete.
Divertia-se com cada carrinho e boneco que encontrava, e logo abandonava um
para divertir-se com os outros. Quando percebeu que já havia usado todos os
brinquedos, foi correndo até o baú para retirar mais alguns.
Levantou
a tampa e olhou lá dentro. No fundo restava apenas um
caminhãozinho. “Cadê meu trem?”, ele pensou. Não estava em lugar nenhum o lindo
trenzinho que apitava e tocava músicas. Foi correndo chamar o pai, que estava no
escritório ao lado. Mas Eric só tem um ano e meio, e não aprendeu a falar nada mais
do que “papá” e “mamã”.
-O
que você quer, meu amor? O papai está trabalhando. Fique mais um pouquinho aí
com seus carrinhos.
Eric
viu o pai sair e permaneceu sentado no tapete, entre os brinquedos. Mas ele
queria o trem. Levantou-se e voltou ao baú, correndo com suas meias
emborrachadas, e mais uma vez ficou na ponta dos pés para olhar lá no fundo. “Opa,
mas que coisa mais estranha!”. Teve que chamar o pai mais uma vez para mostrar
aquilo.
-Papá!
O
pai parou o que estava fazendo.
-Eric,
já disse para esperar mais um pouco. Eu logo termino e já vou brincar com você.
Frustrado,
o menino voltou ao baú e ficou olhando os degraus prateados que haviam surgido
lá dentro. O pai continuava concentrado na tela do computador e Eric sabia que
não adiantava tentar tirá-lo de lá. A não ser que começasse a chorar, e foi o
que fez.
-O
que foi agora, meu filho? Tenha mais paciência, que estou acabando aqui. Cinco
minutinhos!
Eric
parou de chorar e viu que não adiantava chamá-lo. Voltou ao baú e os degraus
continuavam lá. “Vamos ver aonde é que isso vai dar”, pensou, lembrando ainda
que o trem deveria estar lá embaixo, no final daquela escada. Deu um jeito de
entrar no baú e, desajeitadamente, desceu os degraus.
Após
passar por uma cortina de luz, a escada acabou de repente e o bebê caiu sobre um morro de chocalhos. Tentou ficar em pé, mas os pés não se
firmavam muito bem sobre as superfícies redondas dos objetos, e ele
escorregava. Olhou ao seu redor e percebeu estar em um lugar muito diferente
dos que se lembrava. Parecia um grande depósito, com milhares de pilhas de
coisas feitas para crianças. Viu uma grande montanha de chupetas, outra de
sapatinhos, um morro de carrinhos vermelhos, outro só com caminhõezinhos
verdes, e um infinito de brinquedos de todos os tipos.
“Que
lugar legal! Nunca mais quero ir embora!”, pensou.
Passou
a engatinhar, já que era impossível andar sobre tantas coisas sem tropeçar. E
do alto de um morro de ursos cor de rosa, ele avistou, à sua frente uma grande
montanha de trenzinhos, e bem no topo estava o seu. Eric correu para lá,
pisando com seus pezinhos os mais variados objetos, pouco importando-se com a
dor ou com as quedas. Escalou a montanha de locomotivas dos mais diferentes
estilos e países, até colocar as mãos naquela que era a sua.
“Que
bom que te encontrei! Agora vamos brincar muito!”.
Mas
Eric começou a se sentir incomodado naquele lugar. Afinal, onde estava? Não
podia estar certo ficar por lá sem que o pai ou a mãe estivessem juntos. Assim,
agarrado ao trenzinho, voltou a andar pelos morros de coisas até encontrar uma
escada como aquela que tinha descido. Com muito esforço subiu os degraus,
passou pela luz dourada e saiu dentro de um baú. À sua frente apareceu uma
menininha que ele não conhecia. Ela ficou olhando para Eric, mais surpresa do
que assustada, e perguntou, na língua dos bebês: “Foi você que pegou minha
bonequinha?”. Eric entendeu que era para aquele lugar que iam parar todas as
coisas perdidas de todas as crianças do mundo. Ele queria ajudar a menina a
encontrar sua boneca, mas antes que pudesse respondê-la, sentiu uma forte
pegada em seus pés e foi puxado escada abaixo, para o mar das coisas perdidas.
Caiu
sobre uma quantidade absurda de mamadeiras, e reparou que era um duende que o
havia derrubado. Ele não parecia muito feliz com Eric.
-Devolva
o trem! – disse ele.
Eric,
assustado, escondeu o brinquedo nas costas e foi caminhando de ré. Não queria
entregar seu trenzinho. Era dele! Havia ganhado no aniversário.
“Não
vou dar nada para você!”, disse o bebê. Mas o que saiu de sua boca foi algo mais
parecido com “Ná!”.
O
duende foi ficando mais furioso, e caminhava em direção ao menino. Com uma face
ameaçadora, ele arreganhou os dentes. A criatura parecia disposta a recuperar o
brinquedo a qualquer custo e preparou-se para atacar.
Eric
viu o duende vindo para cima, quando repentinamente surgiu uma escada à sua
frente, e ele subiu por ela o mais rápido que pôde. No desespero da fuga,
deixou o trem cair degraus abaixo. Eric passou pela luz e, ao atravessá-la,
reconheceu-se finalmente dentro do baú do próprio quarto. Escalou-o e caiu
sobre o tapete, e antes de qualquer coisa fechou a sua tampa, que caiu sobre
uma mão verde e pegajosa – o duende tentava entrar no quarto.
O
bebê correu até o pai, mas a meia escorregou e ele caiu sentado. A mão verde
estava conseguindo abrir a tampa do baú, quando finalmente o pai desligou o
computador e foi em direção ao filho.
-Pronto,
meu amor. Agora vamos brincar!
Eric
agarrou a mão do pai o mais firme que conseguiu, e puxou-o até o baú. O pai
entendeu que ele queria mostrar alguma coisa lá dentro e levantou a tampa.
Olhou lá dentro, e franziu a testa. Impressionado, o pai tampou a própria boca
e ficou com os olhos arregalados.
-Meu
Deus, o que é isso dentro desse baú?
Sem
demora, enfiou lá a mão. O bebezinho se preparou para gritar “ná!”, mas assim
que o pai ergueu a mão novamente, ela segurava o seu querido trenzinho.
-Olha
o que eu achei!
E,
vendo que o baú havia voltado a ser um móvel normal, com fundo de madeira, o
bebê sorriu de felicidade e abraçou-se às pernas do “papá”.
O autor do texto é mesmo "L.F.Riesemberg"?
ResponderExcluirfoda demais
ResponderExcluir