Daniel
tinha oito anos. Era uma noite muito quente de verão, quando seu pai o convidou
para irem andando até a banca de revistas, comprar sorvete. Foram só os dois pelas ruas, sob as luzes fluorescentes dos postes, ouvindo o cri-cri dos grilos
e admirando o grande tapete brilhante que as estrelas formavam no céu. Foram
conversando, e para Daniel aquela caminhada noturna era uma aventura.
Ao
chegarem à banca, o garoto viu uma imensidão de revistas em quadrinhos. “Quer alguma
coisa? Pode escolher”, disse o pai. E isso foi como estar no céu!
Daniel
olhou tudo o que estava à venda dentro de potes de vidro: carrinhos, dentaduras
de vampiro, paçocas, doces de leite... percorreu a estante dos gibis, das
revistas, dos livros chatos de filosofia. Por fim, escolheu um almanaque de
palavras cruzadas. O pai pegou um picolé de limão no freezer, e então Daniel mergulhou
a cabeça naquela câmara fria cheia de delícias, e lembrou como era a sensação
de estar no inverno. Olhou todos os sorvetes e quis um picolé cremoso de coco. O
pai pagou tudo ao jornaleiro com cédulas e moedas, guardou o troco no bolso e foram
embora, respirando a brisa suave da noite, deliciando-se com seus doces gelados
e cumprimentando algumas pessoas que, àquela hora, ainda estavam sentadas em
cadeiras nas varandas, olhando a rua com uma limonada nas mãos.
Daniel
olhou mais uma vez o céu, e vislumbrou as estrelas.
-Filho,
você sabia que algumas delas já não existem, mas estão tão longe que a luz
continua chegando até nós? Parando para pensar, elas são imortais. Continuam
vivas mesmo depois da morte.
O
menino continuou admirando o céu majestoso, sem pensar que as estrelas também o
observavam. Para elas, o tempo caminhava diferente, e elas permaneceram lá,
enquanto Daniel voltou para casa, dormiu, continuou sua vida e cresceu.
Hoje
um adulto, ele não lembra mais daquela noite em que saiu com seu pai. A vida o
fez seguir caminhos que não o faziam olhar para o céu, e ele foi esquecendo
aquela magia. Tornou-se uma pessoa séria, prática e aborrecida. Não acreditava
em nada, até que, numa noite que parecia ser como outra qualquer, ele resolveu
sair para respirar ar puro. Era verão, e a agradável brisa bateu em seus
cabelos, trazendo o inconfundível perfume das flores e árvores da rua. Olhou
para o céu e era uma noite sem luar, daquelas em que se vê milhares de
constelações iluminando o espaço.
Sem
delongas, aquilo reativou a mesma sensação de quando era um menino, e ele teve
uma necessidade imensa de caminhar pela rua até a banca de sua infância, para
comprar uma revista de palavras cruzadas e um picolé de coco. E foi o que fez,
com passos lentos para aproveitar cada segundo daquele misterioso prazer que
estava adormecido há anos.
Um
sorriso enorme estampou-se em seu rosto, e ele fez o que queria com uma alegria
incomparável. “Puxa, como é bom viver!”, pensou. Veio saboreando o picolé e
folheando o almanaque, e sentiu que havia voltado a ser uma criança de oito
anos. Refletindo, concluiu que não era tão simples ter aquelas sensações. Seria
somente durante algumas noites especiais de verão, mas fazer aquilo ao menos
uma vez por ano já seria o suficiente para manter-se jovem para sempre, e consequentemente
imortal! “É isso... descobri a receita para a imortalidade!”, gritou no meio da
rua, rindo, suspirando, sorrindo mais e mais.
Do
alto as estrelas o observavam e, contentes, brilharam ainda mais. “Que bom! Ele
está aprendendo...”, elas pensaram.
Parabéns pelo conto incrível! Me emocionei muito...
ResponderExcluirFoi muito bom Eli tem um talento em criveu muito bom ótimo
ExcluirMaravilhoso !!
ResponderExcluirMuito legal, este final, parabéns! Vc tem bastante talento para isto!
ResponderExcluirLindo conto
ResponderExcluirAmeiii
ResponderExcluirMuito bom
ResponderExcluirGostei muito do texto
ResponderExcluirFiz uma apresentação na minha escola com esse conto
ResponderExcluirmuito bonito