segunda-feira, agosto 11, 2014

As rosas (L.F.Riesemberg)




O senhor Aristides amava roseiras. Plantava várias por sua casa, em todos os cantos do jardim e do quintal. O lugar era lindo, com cores exuberantes e uma mistura incrível de aromas. Mas elas eram só dele e de mais ninguém. Nunca deixava ninguém passar pelo seu portão, nem fornecia mudas de suas plantas. Vivia isolado de pessoas desde que a esposa morreu, há muitos anos, e suas únicas companhias desde então eram as centenas de rosas que floresciam o ano todo em sua casa.

Por mais que eu conhecesse a famosa antipatia do velho, nunca deixei de admirar suas flores. E, sempre que tinha a chance, lhe pedia umas mudas, mesmo sabendo que teria apenas a sua cara fechada como resposta.

Pois esse meu vizinho, certo dia, voltou assustado do médico. Tinha uma doença incurável, e não duraria muito tempo. Sua maior preocupação: as rosas. Como elas sobreviveriam depois que morresse?

Aos poucos, o sofrimento fez com que ele fosse se abrindo. Trocamos uma palavra aqui, outra ali, por cima da cerca que dividia nossas casas. Quando fui perceber, ele já estava me convidando para sentir de perto o cheiro das flores. E que perfume elas exalavam! Até as abelhas pareciam ser maiores e mais amarelas em meio a tanta beleza naquele jardim.

Para minha surpresa, no dia em que fui lá pela primeira vez, ele perguntou qual muda eu queria. Contente, escolhi a rosa mais linda que encontrei, cor de laranja. Pois, no dia seguinte, com todo o cuidado, ele me entregou a muda. Agradeci bastante, e perguntei se ele queria algo em troca.

“Sim”, ele disse. “Quero que me ajude a fazer com que elas vivam depois que eu partir”.

Bolamos um plano e, todos os dias, íamos a uma casa da vizinhança e entregávamos uma muda de roseira. Todos ficavam admirados pelo velho Aristides estar finalmente voltando a conversar com as pessoas.

“Muito obrigado, seu Aristides”, era o que ele mais ouvia naqueles dias. Em questão de um mês, todas os moradores da rua já estavam com rosas coloridas brotando em seus jardins. Elas foram se multiplicando, e em pouco tempo cada casa estava tão bonita e perfumada como a do próprio velhinho.

Foi numa bela tarde de primavera, com todas as rosas no auge de sua beleza, que o senhor Aristides se despediu deste mundo. Aos poucos, as roseiras de sua casa foram murchando e secando. Porém, os jardins de todos os seus vizinhos mantêm até hoje a exuberância daquele lugar. E, juro por Deus, durante a primavera, aos fins das tardes mais bonitas, é possível ver o espírito do seu Aristides caminhando pelos jardins das casas ao lado da esposa, orgulhoso das suas flores.

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