Em 1536, em Sevilha, na Espanha, o jovem Ricardo Mendonza foi desafiado para um duelo por Don Antonio Delibes, depois de uma discussão em uma taverna. Num sítio afastado, os dois dispararam um contra o outro, mas só Mendonza sobreviveu. Ele viveu até a velhice, com fama de valente, e nunca perdeu o orgulho por aquele violento episódio de sua vida.
Renasceu na Inglaterra, em 1680, com o nome
de Thomas Redcliff, e teve uma vida dedicada ao mar. O gosto pelas aventuras e
o fascínio pela guerra o levaram a se juntar à tripulação do lendário Edward
Teach, mais conhecido como Barba Negra. Assim saciou sua sede de violência ao
participar de mais de vinte ataques a embarcações, alguns dos quais deixaram o mar
vermelho com o sangue das vítimas.
Sua encarnação seguinte teve início em 1792,
novamente na Espanha. Agora teve como irmão mais velho o próprio homem de quem
havia tirado a vida em um duelo, no século XVI. Os dois brigavam muito, desde
crianças, mas aquele que havia sido Don Antonio Delibes tornou-se seu maior
protetor, e o livrou de muitas enrascadas durante esta vida. Deste modo,
Mendonza-Redcliff conseguiu levar uma vida plena e dedicada a sua mulher e
filha. Morreu de tuberculose, aos 47 anos de idade.
Em 1888 retornava novamente à Terra, no lar
de um comerciante em Londres. Desde criança sentia um peso enorme na
consciência, sem saber o motivo, já que “nunca havia feito mal a ninguém”, como
dizia a si mesmo. Aos dezesseis anos de idade, por se sentir inadequado ao
mundo, tira a própria vida com um tiro no ouvido.
Renasce em 1970, surdo, no Brasil, com o nome
de Marcos Souza. Os mesmos sentimentos de culpa da existência passada o
assaltavam, agora intensificados. Porém, ao nascer em meio a uma família
profundamente religiosa e com alta instrução acadêmica, sempre recebeu ótima
orientação terapêutica desde a infância. Nunca saberia, nesta vida, que seus
atuais pais e irmãos eram algumas de suas vítimas afogadas do tempo em que
atuou como saqueador dos mares, no século XVII, e que o haviam perdoado e
acolhido de bom grado para auxiliar em seu equilíbrio.
Decidido a visitar a Espanha - país pelo qual
sentia estranha atração - ao completar dezoito anos partiu em um Boeing para
realizar seu sonho. Durante o voo sobre o Atlantico, o avião começou a ter
alguns solavancos. Antes de cair no mar, no auge do desespero dos passageiros,
Marcos teve uma breve visão, onde todos à sua volta estavam vestidos como
corsários – eram seus companheiros na tripulação do Barba Negra reunidos
naquele avião.
A morte daquelas mais de cem pessoas por
afogamento foi seguida pela chegada de uma falange de espíritos luminosos que
vieram em missão de socorro. Marcos, deixando seu corpo na água, agarrou a mão
estendida de Antonio Delibes.
-Parabéns por mais esta etapa cumprida –
disse o companheiro. E seguiram de volta à sua verdadeira morada, cientes de
que ainda teriam que voltar outras vezes à Terra.
Muito bom o blog.
ResponderExcluirRapaaaaaaaz, primeiro conto fantástico que eu leio e já parece que vai ser o melhor <3
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