“Livraria”. Era apenas o que constava
entalhado na placa torta acima da entrada do estabelecimento. Adentrei ao
recinto tomado pelas sombras, e logo a porta fechou-se às minhas costas com
estrondo. O ambiente estava habitado por inúmeras prateleiras mal arrumadas,
recheadas de livros velhos e teias de aranha. Um forte cheiro de mofo pairava
no ar, evocando em mim memórias há muito adormecidas.
“Pois não?”, uma voz rouca surgiu nas trevas
de um dos corredores, acompanhada pelo ranger de lentos passos sobre o
piso de madeira.
A voz vinha de um ancião vestido com um negro
e antiquado paletó. Ele carregava um surrado livro de couro na mão esquerda e
sobre seu longo nariz pendia um monóculo de ouro com uma lente que aumentava
consideravelmente o tamanho de seu olho.
“Bom dia, senhor”, eu disse, apreensivo. “Eu
sempre passo com pressa por essa rua, e nunca tinha reparado na sua loja.
Resolvi entrar para dar uma olhada”.
O velho aproximou-se mais ainda, e estendeu o
livro em minha direção. “Ninguém entra aqui por acaso”, disse.
Toquei o exemplar que ele me oferecia e o
segurei em minhas mãos. O título estava semi-apagado pelo desgaste do tempo, e
mal dava para ler as letras douradas em sua capa.
“Sobre o que é este livro?”, perguntei.
Ele sorriu um sorriso misterioso.
“Talvez você possa me dizer. Abra-o”.
Obedeci e comecei a ler o prólogo. Pareceu-me
interessante o suficiente para que eu quisesse levá-lo para casa e lê-lo até o
fim.
Já absorvido pelas palavras naquelas páginas
amareladas pelos anos, fui subitamente interrompido pelo ancião. “Leve-o. É
seu”.
Surpreso, estranhei a oferta e quis saber
realmente o que ele queria. Arrisquei a perguntar, mas não sabia exatamente que
palavras usar. Antes que eu conseguisse, ele falou: “Este volume foi escrito há
mais de um século, e desde então nunca foi aberto por ninguém. Você é o
primeiro a folhear estas páginas”.
“Mas por que?”, eu quis saber. “Como um livro
tão antigo nunca foi tocado antes?”.
O velho respondeu: “Ninguém disse que ele
nunca foi tocado. Tentaram abri-lo, mas só a pessoa certa poderia fazê-lo”.
Olhei à volta e reparei na quantidade enorme
de livros dispostos nas prateleiras.
“Cada pessoa tem um livro à sua espera”,
continuou o velho. “Este que você tem nas mãos esperou todo esse tempo e viajou
ao redor do mundo para te achar. Agora vocês se encontraram, e meu trabalho por
aqui está encerrado”, disse, tirando um molho de chaves do bolso. “Agora vá,
que a loja já vai fechar”.
Antes que eu pudesse responder qualquer coisa
ele foi me conduzindo à saída, e logo me vi novamente na calçada, sob a luz do
dia. A porta fechou-se e ainda fiquei um tempo ali, pensando no fato inesperado
que acabara de se passar comigo, até que não vi alternativa a não ser ir
embora, com o livro que acabara de ganhar.
Passadas algumas semanas, completamente
emocionado com a aventura que a leitura havia me proporcionado, retornei ao
local para agradecer apropriadamente ao livreiro. Ao chegar, aquele endereço
não existia mais. Havia apenas um muro, coberto com cartazes antigos, colados
uns sobre os outros, e um misterioso vento de outono sussurrou em meus ouvidos
e brincou com meus cabelos.
Incrível!!!
ResponderExcluirPoxa cara! Continue assim! você vai longe!!!
ResponderExcluirEu também escrevo, mas gosto de histórias longas e cheias de detalhes.
Parabéns!
Mto legal, gostei bastante dos detalhes que foram tantos mas n foram exagerados
ResponderExcluirMt bom
ResponderExcluirmuito bom
ResponderExcluiralguem pode me responder se é uma narrativa ou um elemento de viagemm
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