O menino brincava alegremente no lindo balanço do parque, com as mãos bem agarradas às correntes do brinquedo e soltando o corpo para trás, sorridente, enquanto um gostoso frio tomava conta da barriga. Gostava de sentir os cabelos esvoaçarem, e o ar gelado que entrava pelas narinas. Causava-lhe lágrimas o vento que batia em seus grandes olhos azuis.
Brincava sozinho, aproveitando que nenhuma outra criança lhe tomaria a vez. Empurrava o chão com toda a força dos pés e voava cada vez mais alto. Se a mãe lhe visse naquele momento, berraria para parar com aquilo, preocupada com uma possível queda.
Ele brincava, como se não houvesse mais nada no mundo. Só ele e o balanço. Nem o tempo existiria enquanto estava ali, tomando os últimos raios de sol da tarde, curtindo o brinquedo só para si.
Naquele estado, nem percebeu o velho que o observava, às suas costas, com as mãos nos bolsos do casaco.
O velho acompanhava, atentamente, cada ida e vinda do garoto, anestesiado pelo movimento de vai e vem. O menino era como o pêndulo de um mágico, que hipnotizava os olhos de quem o seguia.
A noite foi caindo, e o menino, que já teria onze anos ou mais, foi diminuindo a frequência com que pegava embalo. Quando o crepúsculo anunciava o horário adiantado, ele parou de colocar os pés no chão e o balanço foi perdendo o impulso. Começava a cair o sereno da noite, e o brinquedo foi, aos poucos, parando, até se transformar em apenas uma cadeira suspensa no ar por duas correntes.
O menino colocou os pés no chão.
Foi levantar-se, mas ouviu uma voz que vinha de trás.
— Espere!
Sobressaltado, girou a cabeça e viu o velho ali parado. Sentiu-se arrepiado dos pés à cabeça e, paralisado, continuou sentado onde estava.
A mãe sempre lhe avisava para voltar cedo, mas nunca dava ouvidos aos conselhos, porque coisas ruins só aconteciam com os outros.
— Não precisa ter medo — o velho disse.
O garoto olhava ao redor, esperando ver uma alma que lhe ajudasse. Também não queria ter a vergonha de fugir do estranho, correndo o risco de ser gozado pelos outros meninos no dia seguinte.
O velho tentou se aproximar, mas freou ao notar o medo nos olhos do rapazinho.
— Não estou com medo — disse o garoto, agarrando as correntes.
O velho sorriu. Procurou segurar o menino mais tempo ali, com um gesto das mãos, para que este ouvisse o que tinha a dizer.
— Escuta, você precisa prometer uma coisa. Pode ser? — começou o velho, um tanto embaraçado, com a voz rouca.
O garoto queria sair correndo, mas as pernas não lhe obedeceriam.
— Prometa que você vai voltar aqui, está bem? — falou, deixando o menino em dúvida se foi isso mesmo que saiu da sua boca.
O velho parecia realmente interessado em dizer aquilo, como se fosse a coisa mais importante a se falar a alguém. Como se o mundo fosse acabar, caso não conseguisse entregar a mensagem.
E continuou:
— Nunca deixe de brincar como você estava fazendo agora. Sempre que achar que as brincadeiras perderam a graça, volte aqui mais uma vez e brinque! Brinque! Os meninos de sua idade podem até zombar de você! Não dê ouvidos a eles! Volte aqui mais vezes! Eles te proporão outras brincadeiras, mas não siga seus conselhos! Brinque! Balance mais alto!
Os olhos do velho foram ficando empalidecidos, distantes. Sua voz começava a sumir, mas ele continuava falando, quase em transe:
— Eu sei o que você estava pensando aí, enquanto balançava. Menino, acredite: você pode conseguir tudo, exatamente tudo o que sonha! Mas para isso, vou pedir que você volte aqui amanhã, neste mesmo balanço. Sozinho ou acompanhado, não importa, mas volte aqui, e brinque do jeito como você estava brincando agora há pouco. Não deixe esta ser a última vez que você se levanta desse balanço! Eu não tenho muito tempo, mas você tem todo o tempo do mundo. Minhas forças já estão acabando, mas você é invencível. Prometa, garoto! Prometa que esta não foi a última vez que você usou este brinquedo! Prometa agora!
O velho irrompeu em lágrimas, e teve que desviar o olhar do balanço, para não sofrer mais.
Puxou um lenço e enxugou os grandes e tristes olhos azuis.
As coisas clareavam agora.
Olhou ao redor.
O parque sumira.
Não havia mais menino algum ali.
O velho sentou-se, cabisbaixo, com as costas arqueadas, no assento vazio do balanço, agora convertido em cadeira de embalo, e olhou para o nada.
Não era mais possível voltar no tempo e convencer-se a continuar brincando.
Muito bonito esse conto; às vezes nós passamos pela vida e não nos damos conta da importância de uma simples brincadeira na infância e quando chegamos à velhice, pegamo-nos cheios de nostalgia e sabendo que o tempo é inexorável e se torna impossível voltar ao passado. Por isso, quem ainda tiver muito tempo, aproveite-o bem e intensamente, pois a vida é muito breve...
ResponderExcluirParabéns pelo conto. Chorei de emoção com ele. Parabéns :')
ResponderExcluirParabéns pelo conto. (Chorei)
ResponderExcluirAmei o conto
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