sábado, junho 13, 2015

As Comadres (L.F.Riesemberg)



Todo sábado à tarde as duas se reuniam para jogar conversa fora. Entre uma partida de cartas e uma xícara de café, falavam da vida de quase toda a cidade. Durante dez anos foi esse o hábito das duas comadres, amigas de longa data.

Quando a mais linguaruda morreu, a outra achou que não suportaria a falta daquelas conversas. Foi então que teve a ideia de chamar uma médium para invocar a amiga.

Tudo preparado, a médium entrou em transe e a sessão espírita começou.

-E então, Amélia. Sentiu falta dos nossos encontros? – perguntou a viva.

-Receio que não. Ah, se você soubesse!

-Como assim? O que tem do lado de lá?

-Vera, agora eu posso entrar na casa de quem eu quiser, sem ninguém me ver. Ah, fico sabendo de cada coisa!

-É mesmo? O que, por exemplo?

-Bem, você sabia que o seu Armínio da farmácia anda de caso com a dona Mercedes?

-O que? Mas que safado! Bem que eu desconfiava dessas caminhadas noturnas!

-Isso não é nada! E o padre Damião, que vai largar a batina?

-Não me diga!

-É, se enrabichou com a filha mais nova da Isabel. Querem casar!

-Santo Deus! E pensar que segurei aquela menina no colo! Que ordinária!

E com a ajuda da morta, Vera ficou sabendo dos segredos de todos os conhecidos. Fofocaram até cansar.

-Nossa, Amélia, a morte só te fez bem. Temos que nos reunir todo sábado, como antes! Topas?

A médium incorporada, de olhos fechados, fez cara de nojo:

-Não, não! Eu tenho uma ideia melhor: você vem comigo!

-Como assim, Amélia?

-É melhor que você mesma veja tudo. Já está decidido: você vem comigo. Estou mesmo me sentindo muito sozinha do lado de cá.

A outra ficou alarmada.

-Mas Amélia, eu preciso cuidar do meu marido. Ele não anda nada bem.

-Seu marido? Que piada! Pois ele está agora mesmo saindo de fininho da casa da Gertrudes.

-O que?

-E isso não é nada! Eu sei que o seu filho gosta é de homem...

-Amélia! Pare com isso!

-...e todo mundo vai ficar sabendo se você não vier comigo agora!

Vera começou a rezar:

-Deus, afaste esse espírito maligno da minha casa!

-Agora é assim que me trata, hein? Pois eu vou te assombrar dia e noite, até você passar para o lado de cá! Venha comigo, Vera. Venha!

-Não! – a velha gritou – Me perdoe, Senhor! Prometo que nunca mais vou falar da vida de ninguém! Nunca mais!

Diante dela, a médium segurou o riso.

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