quinta-feira, janeiro 31, 2013

A Doença do Porco


Em uma fazenda de um país remoto, um homem fez grande amizade com um porco. Criou-o igual a um cão, alimentando-o como uma mamadeira, abrigando-o em uma casinha e dando-lhe um nome: Wilbur, em homenagem a uma personagem de desenho animado.
            Porém, a proximidade com o animal lhe rendeu muitas advertências de pessoas próximas, que não achavam saudável tanto contato com um suíno. “O Wilbur não é um simples porco. E ele é muito limpo!”, rebatia o dono.
            Assim, apesar de acreditar nas próprias palavras, não foi tanta surpresa quando notou que o resfriado que contraiu era mais forte que o normal — e que o porco também apresentava sintomas estranhos. O médico lhe alertou para afastar-se do suíno e para consultar um veterinário. Este, investigando a doença, disse sério: “Você não deveria ficar tão próximo desse animal. Saiba que ele pode te passar doenças”. Mas o homem não queria saber: apesar de sentir-se mal, passava horas, todos os dias, abraçado a Wilbur, desejando que ele melhorasse.
            Quando o porco morreu, o dono caiu em depressão. Trancou-se em casa e não quis receber mais ninguém. No entanto, o contato que manteve naqueles dias com o médico, o veterinário, o vendedor da agropecuária, a balconista da farmácia, o carteiro e mais dezenas de outras pessoas, fez com que muitas delas também começassem a sentir uma terrível enxaqueca, seguida por febre, dores no corpo, tosse e fortes espirros.
            Menos de uma semana depois o centro de saúde da cidade recebia um notável aumento do número de casos de uma estranha gripe, muito poderosa. Várias análises foram feitas até se descobrir que se estava diante de um novo tipo de vírus, para o qual não se conhecia uma cura. O desespero começou a tomar conta dos moradores quando a origem da doença foi rastreada, e chegou-se até a casa daquele excêntrico dono do porco, que foi encontrado morto em sua cama, agarrado a uma foto do animal.
            Quando o secretário de Saúde alertou a população para que aqueles que apresentassem os sintomas não viajassem, era tarde demais. O vírus havia sido levado a cidades vizinhas, e em cada uma delas os casos começaram a se multiplicar de forma veloz. Não levou muitos dias para que a doença cruzasse a fronteira do país e a notícia do primeiro morto em terras estrangeiras estampasse os jornais: Nova Doença Preocupa o Mundo!
            Segundo dados preliminares, o estranho vírus se alastrava de forma assustadora e podia matar. O simples ato de apertar as mãos ou permanecer em um ambiente fechado com outras pessoas podia ser uma forma de contágio. Assim, os governos orientaram a todos para que evitassem sair de casa e passassem a ter hábitos mais severos de higiene, como esterilizar com álcool qualquer objeto que tenha sido tocado. Ninguém queria se contaminar com aquela enfermidade, que recebera da mídia o nome de Doença do Porco.
            Quando estava confirmado que era uma pandemia, e que milhares de pessoas já haviam morrido graças ao vírus, um novo ambiente mundial começou a ser desenhado. Empresas deram férias aos funcionários, escolas interromperam as aulas, as rodoviárias e aeroportos pararam de funcionar.
            Depois de semanas neste estado desolador, gerando a iminência de uma crise econômica, os cientistas perceberam que o vírus havia se adaptado às parcas formas de prevenção da humanidade, e transmitia-se por outros meios, jamais imaginados.
            Enquanto escrevo este relato, o último canal de televisão acaba de sair do ar, já que os raios que saem da tela também são vias de contágio. A simples leitura deste texto já seria responsável por transmitir a doença ao leitor, caso eu a tivesse contraído. Pela janela do meu apartamento vejo um cenário pós-apocalíptico, com soldados armados vestindo máscaras de oxigênio, lojas saqueadas e carros incendiados.       Não há mais esperanças de reverter a situação. Meus mantimentos acabaram, e terei que, finalmente, sair de casa e encarar as ruas.
            O pior vai ser aguentar esta terrível dor de cabeça que me aflige desde que acordei, nessa manhã cinzenta.

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