Em uma fazenda de um país remoto, um homem
fez grande amizade com um porco. Criou-o igual a um cão, alimentando-o como uma
mamadeira, abrigando-o em uma casinha e dando-lhe um nome: Wilbur, em homenagem
a uma personagem de desenho animado.
Porém,
a proximidade com o animal lhe rendeu muitas advertências de pessoas próximas,
que não achavam saudável tanto contato com um suíno. “O Wilbur não é um simples
porco. E ele é muito limpo!”, rebatia o dono.
Assim,
apesar de acreditar nas próprias palavras, não foi tanta surpresa quando notou
que o resfriado que contraiu era mais forte que o normal — e que o porco também
apresentava sintomas estranhos. O médico lhe alertou para afastar-se do suíno e
para consultar um veterinário. Este, investigando a doença, disse sério: “Você
não deveria ficar tão próximo desse animal. Saiba que ele pode te passar
doenças”. Mas o homem não queria saber: apesar de sentir-se mal, passava horas,
todos os dias, abraçado a Wilbur, desejando que ele melhorasse.
Quando
o porco morreu, o dono caiu em depressão. Trancou-se em casa e não quis receber
mais ninguém. No entanto, o contato que manteve naqueles dias com o médico, o
veterinário, o vendedor da agropecuária, a balconista da farmácia, o carteiro e
mais dezenas de outras pessoas, fez com que muitas delas também começassem a
sentir uma terrível enxaqueca, seguida por febre, dores no corpo, tosse e
fortes espirros.
Menos
de uma semana depois o centro de saúde da cidade recebia um notável aumento do
número de casos de uma estranha gripe, muito poderosa. Várias análises foram
feitas até se descobrir que se estava diante de um novo tipo de vírus, para o
qual não se conhecia uma cura. O desespero começou a tomar conta dos moradores
quando a origem da doença foi rastreada, e chegou-se até a casa daquele
excêntrico dono do porco, que foi encontrado morto em sua cama, agarrado a uma
foto do animal.
Quando
o secretário de Saúde alertou a população para que aqueles que apresentassem os
sintomas não viajassem, era tarde demais. O vírus havia sido levado a cidades
vizinhas, e em cada uma delas os casos começaram a se multiplicar de forma
veloz. Não levou muitos dias para que a doença cruzasse a fronteira do país e a
notícia do primeiro morto em terras estrangeiras estampasse os jornais: Nova
Doença Preocupa o Mundo!
Segundo
dados preliminares, o estranho vírus se alastrava de forma assustadora e podia
matar. O simples ato de apertar as mãos ou permanecer em um ambiente fechado
com outras pessoas podia ser uma forma de contágio. Assim, os governos
orientaram a todos para que evitassem sair de casa e passassem a ter hábitos
mais severos de higiene, como esterilizar com álcool qualquer objeto que tenha
sido tocado. Ninguém queria se contaminar com aquela enfermidade, que recebera
da mídia o nome de Doença do Porco.
Quando
estava confirmado que era uma pandemia, e que milhares de pessoas já haviam
morrido graças ao vírus, um novo ambiente mundial começou a ser desenhado.
Empresas deram férias aos funcionários, escolas interromperam as aulas, as
rodoviárias e aeroportos pararam de funcionar.
Depois
de semanas neste estado desolador, gerando a iminência de uma crise econômica,
os cientistas perceberam que o vírus havia se adaptado às parcas formas de
prevenção da humanidade, e transmitia-se por outros meios, jamais imaginados.
Enquanto
escrevo este relato, o último canal de televisão acaba de sair do ar, já que os
raios que saem da tela também são vias de contágio. A simples leitura deste
texto já seria responsável por transmitir a doença ao leitor, caso eu a tivesse
contraído. Pela janela do meu apartamento vejo um cenário pós-apocalíptico, com
soldados armados vestindo máscaras de oxigênio, lojas saqueadas e carros
incendiados. Não há mais esperanças
de reverter a situação. Meus mantimentos acabaram, e terei que, finalmente,
sair de casa e encarar as ruas.
O pior vai ser aguentar esta
terrível dor de cabeça que me aflige desde que acordei, nessa manhã cinzenta.
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