- Mas se eu for por aí, ele vai acordar.
O Boi dormia no chão, sob os ossos roídos e cálices de vinho da noite passada.
-Esta é a única saída. Se pegarmos o corredor da direita, vamos nos perder para sempre no labirinto.
João caminhou na ponta dos pés, sem ao menos respirar para não acordar o Boi, que roncava pesadamente.
-Vai ter que passar por cima dele, como eu fiz. Não tem outro jeito se quiser sair vivo daqui.
Ele colocou o pé no meio das pernas do Boi, rezando para que ele não acordasse, senão aquele seria seu fim.
Quando João foi saltar sobre a grossa perna do Boi, o monstro abriu os olhos.
-Cante pra ele! - sussurrou Maria, desesperada.
-O que?
-Cante! Ou conte uma história. Senão ele vai acordar!
João, vendo que era sua única alternativa, inclinou-se e começou a cantar no ouvido do Boi a única canção que veio à sua memória. Ao mesmo tempo em que era uma cantiga, era uma história de ninar crianças.
O Boi, sem se mover e com os olhos desfocados, ficou ouvindo as palavras e a melodia que suavemente saíam da boca de João. Aos poucos suas pálpebras foram fechando e logo ele estava dormindo outra vez.
-Agora venha!
João pulou o Boi dormindo e juntou-se à menina, e os dois entraram correndo nas trevas do corredor, labirinto adentro.
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