Certa vez meus pais chegaram de viagem estupefatos. Era uma agradável
noite de sexta, em pleno Verão, e eles vinham da capital – um trajeto de duas
horas e meia, no máximo, que eles faziam cerca de uma vez por mês. No carro
ainda estavam minha irmã, meu tio e uma vizinha, então todos foram testemunhas.
Era normal chegarem cansados, porém comentando animadamente algo de “extraordinário” que
ocorrera em sua rápida visita à cidade grande. Qualquer coisa podia ser motivo
de espanto para pacatos moradores de uma cidadezinha do interior. Porém, daquela
vez, era algo realmente grande: minha família relatava, com toda a seriedade,
ter presenciado a aparição de um óvni.
Eu
quis saber todos os detalhes, é claro, e foi incrível poder ouvir as diferentes
versões de todos os passageiros. Em resumo, o que ouvi foi que já
no terço final da viagem, pouco depois de anoitecer, minha irmã, no banco de trás do carro, notou pela janela uma luz
no céu e brincou, dizendo estar vendo um disco-voador. Com a insistência do
objeto luminoso que viajava acompanhando o veículo, todos os
ocupantes se interessaram e passaram a observar a estranha luz em movimento.
Meu pai, que dirigia e, portanto, não podia ficar olhando, resolveu parar no acostamento
e também viu, com mais detalhes, o estranho objeto voador.
É
claro que várias teorias tentaram explicar o fenômeno, como a possibilidade de
ser um avião (não era, pois estes sempre voam em linha reta, e aquele fazia
movimentos de sobe e desce). De volta à estrada, em certo momento todos viram a
luz mudar de direção e desaparecer de vista em altíssima velocidade, deixando
um rastro branco que logo se dissipou. Até a hora de ir para a cama eu os ouvi contando essa história muitas
e muitas vezes, e ninguém desmentiu ou duvidou das próprias palavras.
Naquela
noite ninguém conseguiu dormir direito, principalmente eu, lamentando não estar
presente no carro. Sempre me fascinaram todos os tipos de mistérios, e a vida
em outros planetas é um dos que mais me intrigam. Eu daria tudo para ter um
contato com um ser extraterrestre, ou pelo menos avistar uma nave espacial,
como, aparentemente, toda a minha família o fez naquele dia.
Excitados
com o testemunho e sentindo o meu desapontamento por não ter presenciado, meus
pais decidiram, na noite seguinte, me levar até o local do avistamento. Rumamos sem tirar os olhos do céu, que estava apinhado de estrelas, e
paramos em um campo próximo à rodovia, debaixo de araucárias, aguardando novo espetáculo.
Ficamos lá por mais de uma hora, meio temerosos do que podia ocorrer, conversando
sobre aquele que era um dos maiores mistérios do universo. Somos tão pequenos e
há tanto espaço, tantos planetas... Faria algum sentido se fôssemos os únicos
seres inteligentes do universo? Pensávamos nessas ideias enquanto aguardávamos que
um disco-voador surgisse no céu e... quem sabe o que aconteceria depois?
Não
vimos nada. Não apareceu qualquer sinal de luz ou nave no céu, e voltamos para
casa frustrados. Talvez estivéssemos aliviados, por estarmos a salvo após nos
colocarmos em possível risco diante do desconhecido. Mas a verdade é que aquela noite em
que minha família viu um objeto voador não-identificado nos marcou
profundamente e é um assunto que sempre surge em uma roda de conversa numa
noite estrelada.
Às
vezes estamos reunidos, olhando para o céu à procura de qualquer coisa que nos
maravilhe, e alguém sempre irá lembrar do ocorrido. Desde então nunca nenhum de
nós viu nada igual, mas a remota possibilidade de ver novamente já nos
manteve tanto tempo com os olhos voltados para cima, que já testemunhamos, em
conjunto, inúmeros outros fenômenos maravilhosos, verdadeiros presentes da Criação para nossas insignificantes vidinhas aqui embaixo. Chuvas de meteoros,
satélites, cometas, constelações e até a simples passagem de um avião, com suas
luzes piscando, são cenas para gravar em nossas retinas. O silêncio da noite,
em uma calma noite numa cidade pequena, permite que até mesmo possamos ouvir o
som de uma solitária aeronave, a quilômetros de distância acima de nós. E é uma maravilha, em uma
noite gloriosa, testemunhar, ao lado de pessoas que você ama, qualquer um
desses pequenos milagres.
Se
veremos, algum dia, algo realmente espantoso? Tenho certeza que sim. Até lá, sempre
teremos esses encontros incríveis, olhando o céu noturno, conversando sobre o Cosmos e o sentido da vida, nos sentindo pequeninos diante de algo tão imenso e maravilhoso, eternamente
renovando a nossa infinita capacidade de assombro.
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