A brincadeira estava divertida, mas de repente tudo ficou estranho. O clarão e um som ensurdecedor ocorreram num piscar de olhos. Então Santiago só viu escombros. Sua casa era agora apenas um amontoado de pedras e de aço, semioculto pela névoa que surgira.
Em um minuto
ele brincava na rua, com outras crianças, sob o sol do verão. No seguinte
estava caído, coberto de pó e rodeado por trevas.
Ouviu gritos e soluços.
Com dificuldade,
colocou-se em pé, tentando compreender o tumulto ao seu redor. Havia pessoas
estiradas pelo chão, imóveis, enquanto outras corriam desordenadamente, como alucinadas.
No seu
endereço, as paredes e o telhado se fundiam num desolador emaranhado. Em
desespero o menino correu até aquele monte de blocos e fuligem que antes lhe
servira de lar.
“Mamãe!”. “Papai!”.
“Sarah!”.
Ele gritava e
levantava as pedras, procurando incessantemente por qualquer vestígio de vida naquele
sítio devastado. Suas frágeis mãos não tinham a força exigida, e os gritos
por socorro de seus fatigados pulmões não obtinham qualquer resposta. Todos ali
estavam ocupados procurando seus próprios mortos.
Vez ou outra
esbarrava em algum desorientado que cambaleava pelo terreno, ainda sem
compreender a exata dimensão da tragédia. Teria sido um ataque aéreo? Acidente
ou proposital? Santiago sabia que as respostas poderiam vir com o tempo, mas não
queria nem pensar nas dores que se arrastariam indefinidamente a partir dali.
Caiu de joelhos,
observando a paisagem triste que se estabelecera. A rua de sua infância, palco
de brincadeiras e amizades, havia se esfacelado de uma hora para
outra.
Os pais e a
irmã estariam debaixo de toneladas de concreto.
Somente um
objeto colorido se destacou no chão cinzento. Um urso de pelúcia sorrindo, contrastando
com todo aquele horror. Era o urso de Sarah, agora imundo e mutilado.
O garoto escondeu
o rosto com as mãos e lamentou sua sorte. Aquele era o fim, que chegou sem qualquer
aviso. Nada mais seria como antes...
Mas, de surpresa,
um som agradável finalmente acariciava seus ouvidos. Era o som mais doce, em
oposição aos ruídos cortantes que enchiam a atmosfera.
“Santiago, você
está bem?”.
A voz surgia do
meio da neblina cinzenta, como a luz de um farol que salva o marinheiro em
noite escura. Impossível não reconhecer. Eram eles, os pais e a irmã, mãos
estendidas em sua direção. Estavam intactos, com as vestes muito brancas e limpas,
serenos, na mais pura representação da paz.
“Vamos conosco,
meu filho. Sigamos o nosso caminho...”.
Krai mto triste 😭
ResponderExcluirSobre a vida não ter fim. Sobre voltar para casa.
ResponderExcluirQue conto maravilhoso! Adorei!
...e no fim, não sentiu mais medo, estava protegido... também estava bem!
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