quarta-feira, abril 06, 2022

O Bombardeio (L.F.Riesemberg)

A brincadeira estava divertida, mas de repente tudo ficou estranho. O clarão e um som ensurdecedor ocorreram num piscar de olhos. Então Santiago só viu escombros. Sua casa era agora apenas um amontoado de pedras e de aço, semioculto pela névoa que surgira.

Em um minuto ele brincava na rua, com outras crianças, sob o sol do verão. No seguinte estava caído, coberto de pó e rodeado por trevas.

Ouviu gritos e soluços.

Com dificuldade, colocou-se em pé, tentando compreender o tumulto ao seu redor. Havia pessoas estiradas pelo chão, imóveis, enquanto outras corriam desordenadamente, como alucinadas.

No seu endereço, as paredes e o telhado se fundiam num desolador emaranhado. Em desespero o menino correu até aquele monte de blocos e fuligem que antes lhe servira de lar.

“Mamãe!”. “Papai!”. “Sarah!”.

Ele gritava e levantava as pedras, procurando incessantemente por qualquer vestígio de vida naquele sítio devastado. Suas frágeis mãos não tinham a força exigida, e os gritos por socorro de seus fatigados pulmões não obtinham qualquer resposta. Todos ali estavam ocupados procurando seus próprios mortos.

Vez ou outra esbarrava em algum desorientado que cambaleava pelo terreno, ainda sem compreender a exata dimensão da tragédia. Teria sido um ataque aéreo? Acidente ou proposital? Santiago sabia que as respostas poderiam vir com o tempo, mas não queria nem pensar nas dores que se arrastariam indefinidamente a partir dali.

Caiu de joelhos, observando a paisagem triste que se estabelecera. A rua de sua infância, palco de brincadeiras e amizades, havia se esfacelado de uma hora para outra.

Os pais e a irmã estariam debaixo de toneladas de concreto.

Somente um objeto colorido se destacou no chão cinzento. Um urso de pelúcia sorrindo, contrastando com todo aquele horror. Era o urso de Sarah, agora imundo e mutilado.

O garoto escondeu o rosto com as mãos e lamentou sua sorte. Aquele era o fim, que chegou sem qualquer aviso. Nada mais seria como antes...

Mas, de surpresa, um som agradável finalmente acariciava seus ouvidos. Era o som mais doce, em oposição aos ruídos cortantes que enchiam a atmosfera.

“Santiago, você está bem?”.

A voz surgia do meio da neblina cinzenta, como a luz de um farol que salva o marinheiro em noite escura. Impossível não reconhecer. Eram eles, os pais e a irmã, mãos estendidas em sua direção. Estavam intactos, com as vestes muito brancas e limpas, serenos, na mais pura representação da paz.

“Vamos conosco, meu filho. Sigamos o nosso caminho...”.

3 comentários:

  1. Krai mto triste 😭

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  2. Sobre a vida não ter fim. Sobre voltar para casa.
    Que conto maravilhoso! Adorei!

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  3. ...e no fim, não sentiu mais medo, estava protegido... também estava bem!

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