“É
um caleidoscópio”, disse a mãe, com o olho grudado no objeto. “Eu tinha um quando
era menina, mas este é muito mais sofisticado”. O filho esperou impacientemente
que ela lhe devolvesse o brinquedo, para que pudesse logo brincar. Gabriel espiou
pelo pequeno buraco em uma das bases daquele cilindro feito de lata e madeira. A
mãe explicou a mágica: “As paredes internas são espelhos, e conforme você gira,
os cristais lá dentro criam essas lindas ilusões”.
Mas
Gabriel não via apenas cristais. Parecia algo muito maior. Teve a impressão de
olhar todo o universo, com suas estrelas, nebulosas e cometas correndo por
todos os lados. “O mundo está aqui dentro”, pensou. Caminhou para o quarto sem
tirar o olho daquela pequena janela mágica. “Cuidado para não se machucar
andando assim”, alertou a mãe.
Mas
como ele poderia se machucar? Estava diante da maior das criações! Quanto mais
girava o cilindro, mais imagens surgiam no seu interior. Viu o planeta Terra,
com todos os seus continentes mergulhados num mar verde. Encontrou as pirâmides
do Egito antigo, que logo se transformaram em um navio cruzando o oceano.
Quando mais girava, mais visões iam se revelando.
O
menino não saberia dizer quanto tempo ficou ali, admirando aquele mundo de
imagens que se formavam e se desmanchavam. Viu navios cruzando o oceano virarem
guerreiros de uma tribo pré-histórica, que depois se transformavam em vulcões de um planeta desconhecido. Girando mais devagar, observou todo o país, com
todos os Estados, e seu Estado, com todas as cidades. Deu uma batidinha na
lateral do aparelho e então viu surgir sua cidade vista do alto, e achou o
telhado da própria casa.
Pouco
depois pôde ver até a si mesmo, ali no quarto, maravilhado com tudo aquilo. Pelo visor do cilindro viu até sua mãe na cozinha,
preparando o almoço, e depois enxergou a biblioteca fechada naquele sábado,
onde pôde entrar e passear pelos corredores silenciosos.
“Que
bom que gostou do brinquedo”, disse a mãe, na mesa do almoço. Seria inútil
explicar a ela que não era só um brinquedo. “Sim, é muito legal”, concordou, tentando
imaginar de onde teria vindo aquele poder fantástico. “Como será que isto foi
parar no córrego?”, ela perguntou. Gabriel não sabia, mas em um impulso levantou-se
e voltou correndo para o quarto, onde novamente levou o cilindro ao olho.
Os
cristais foram se movendo dentro da câmara e revelaram o caminho contrário que
o artefato havia percorrido antes de chegar até suas mãos. Gabriel viu-se naquela
manhã, abrindo a caixa de madeira na beira do córrego, e antes disso boiando na água. Então viu a caixa subindo rio acima, por muitos quilômetros,
até um forte impacto lançá-la na carroceria de um caminhão que sofreu um
acidente durante a tempestade. O caminhão rumava para um museu na capital, mas sua carga ficou espalhada na estrada.
Gabriel
tirou os olhos do visor e respirou fundo. Como era possível aquele objeto lhe
revelar tanto sobre tudo? Que poder incrível ele tinha em mãos! Olhou novamente
o exterior do caleidoscópio, com suas inscrições em japonês, e concluiu que, de posse daquilo, poderia saber sobre tudo o que quisesse. Nunca mais teria dúvidas
a respeito do que quer que fosse. Bastava olhar e a resposta lhe seria
revelada.
Grudou
outra vez o olho no objeto, e procurou as questões da próxima prova de Matemática.
E estavam lá! Começou a pensar em tudo o que queria saber, e lembrou da linda
moça da biblioteca. Como seria o seu nome, que ele nunca teve coragem de
perguntar? Procurou um pouco e logo viu, dentro do cilindro, o envelope de uma
carta escrita por ela. “Sofia”, repetiu, maravilhado.
E
a gangue do Jackson? Onde estaria? Encontrou no caleidoscópio cada um dos
garotos e viu como eles pareciam ridículos quando não estavam juntos fazendo
maldades. A partir de agora, eles nunca mais o pegariam de surpresa na rua, nem
o ameaçariam nunca mais.
“Eu
nunca mais vou ter medo de nada!”, disse, rindo como o Dr. Frankenstein ao constatar que o monstro estava vivo.
Muito bacana seu blog! Estou curtindo muito seus contos!! Que venham mais!!! Parabéns!!!!
ResponderExcluirIncrível seu blog! Adoro seus textos, sempre os indico aos meus alunos! Parabéns. 👏👏👏
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