Michael
acordou sem saber como havia chegado lá. Achava-se em um quarto de paredes
brancas, sem portas ou janelas. “Veja, ele acordou”, ouviu alguém falar. Ao
olhar para o lado, percebeu que outras três pessoas estavam lá dentro.
“Que
lugar é este?”
Ajudando-o
a levantar, uma enfermeira tentou passar tranquilidade. “Também
não sabemos. Todos acordamos aqui”.
Um
velho vestido como mágico e um jovem soldado do exército concordaram com a cabeça.
“Estamos tão confusos quanto você”, disse o velho.
“Não
consigo lembrar de nada”, disse Michael. “Fomos sequestrados ou algo do gênero?”.
“Ela
já disse”, falou o soldado, com certa irritação. “Ninguém sabe de nada!”.
Michael
olhou ao redor com mais atenção, tentando encontrar uma saída. Pareciam presos
em uma grande caixa.
“Não
adianta. Já tentamos de tudo”, disse o velho.
“Você
faz mágica?”, perguntou Michael.
“Oh,
não ouse fazer perguntas. Tudo o que sei é que estou aqui, vestido com este
casaco e este chapéu”.
Michael
tentou lembrar-se de algo, mas apesar dos esforços, nada vinha à sua mente. Não
sabia quem era, nem nada sobre seu passado.
“Há
quanto tempo estamos aqui?”
“Ei,
o velho já não disse para não fazer perguntas? Não temos a menor ideia, sobre
droga nenhuma!”, gritou o soldado.
“Por
favor, mantenham a calma”, disse a enfermeira. “Temos que esperar”.
“Mas
eu não quero esperar”, retrucou Michael. “Quero sair daqui”.
“E
acha que já não tentamos?”, perguntou o soldado. “Essas paredes não cedem.
Também não adianta gritar, porque ninguém escuta”.
Michael
colou os ouvidos à parede branca, tentando ouvir algo. O único som que parecia vir do
outro lado era um leve e ininterrupto tilintar, como o de um telégrafo passando uma mensagem.
“Socorro!”,
gritou, golpeando as paredes. “Estamos presos aqui!”, berrou. Mas era inútil.
“Eu
já disse, pessoal”, falou a enfermeira, tentando apaziguar. “Esperemos, que logo
haverá uma saída”.
O
velho mágico sentou no chão, encostando-se à parede. “É uma eterna espera”,
disse, sem esperanças.
“Ei,
e alguém nos traz água? Comida?”, perguntou Michael à enfermeira. Ela suspirou.
Não sabia de nada.
“Como
assim? Estamos esquecidos aqui?”, desesperou-se Michael. “Temos que sair, senão...”.
“Senão
o que?”, perguntou o mágico. “Morremos?”. Então seus olhos desfocaram e seu rosto enrijeceu, como se
estivesse vendo algo sinistro. “Pois eu lhes digo uma coisa: nós já estamos todos
mortos, e isso aqui é o limbo”.
Silêncio
tumular abateu-se sobre todos. Não queriam pensar naquela possibilidade.
“Havia outros nesta sala”, disse a enfermeira. “Mas desapareceram”.
“Como
assim, desapareceram? Quem eram eles?”, perguntou Michael.
“Um
menino e sua mãe. Não falavam muito”.
“E
como saíram? Se foram embora, há um modo de sair”, impacientou-se Michael.
“Evaporaram”,
falou o soldado.
“Sim”,
concordou o mágico. “Uma hora simplesmente nos demos conta de que não estavam
mais aqui”.
“Isto
não pode estar acontecendo de verdade”, Michael lamentou. “Racionalmente, que
outras possibilidades existem para isso tudo?”.
Todos
se olharam.
“Talvez
sejamos loucos em um hospício”, disse o soldado. “E estamos delirando, sob
medicamentos e choques na cabeça”.
Todos
ficaram pensativos. A enfermeira prosseguiu:
“Eu
já imaginei que somos bonecos. Pertencemos a uma criança que cresceu e não quer
mais brincar conosco”, disse ela. “Por isso estamos abandonados aqui”.
O
soldado fez um gesto de escárnio. “Essa foi a pior de todas”, debochou. “É mais fácil achar que estamos dormindo e isso tudo é um pesadelo”.
Michael,
intrigado, avaliou todas as teorias, mas nenhuma lhe parecia satisfatória. Precisavam
fazer mais sentido. Por que justamente aquelas pessoas, naquele lugar? Ele
sentia que só sairiam dali a partir do momento em que compreendessem a razão
daquilo, quando todas as peças se encaixassem, de um modo preciso e engenhoso.
Ele
estava certo.
Debruçado
sobre a escrivaninha, Stephen encarava aturdido uma nova folha em branco presa
à velha Underwood, quando sua esposa abriu a porta.
“E
então, querido. Conseguiu começar?”.
Ele a
mirou com decepção.
“Não,
Thabita. Já escolhi os personagens, só resta saber o que fazer com eles”.
“Ei,
eu pedi uma pizza”, disse ela. “Talvez depois de comer você consiga colocar as
ideias no lugar”.
Ele
voltou a olhar o papel.
“Oh,
não, querida. Tenho prazo para entregar este livro. Mas pode me trazer uma
cerveja. Ou melhor, uma caixa delas”.
Genial!
ResponderExcluirO insight da relação entre a caixa de cervejas e o quarto trancado foi ótimo.