sexta-feira, maio 13, 2016

Freddy Krueger (L.F.Riesemberg)


O cartaz dizia: "Convenção de Cosplayers". Assim como as crianças, os adultos também estavam caracterizados como seus personagens favoritos. Era o concurso anual, e eu queria muito exibir minha nova fantasia, feita a mãos, para impressionar os outros concorrentes.  

Naquela edição do evento havia alguns participantes muito bons, que não deixavam nada a desejar aos originais. Era como se eu estivesse dentro de um filme, rodeado por muitos super-herois e vilões. E oculto pela vestimenta e a maquiagem, eu sentia-me livre da habitual timidez, conseguindo conversar com estranhos de quem habitualmente não me aproximaria.

Alguns dos presentes eram figuras conhecidas minhas, de outras convenções. Mesmo sob volumosos trajes e acessórios, eu reconhecia alguns que, como eu, gostavam de incorporar um personagem diferente a cada reunião. Porém, naquele dia houve um que me impressionara, e que eu nunca havia visto por ali.

Tratava-se de conhecido monstro dos filmes de terror, que usava chapéu, possuía garras de metal na mão direita e – o mais impressionante – toda a pele coberta por queimaduras. Eu já havia visto tentativas de recriação daquele personagem, mas nunca ninguém tinha conseguido com tamanha perfeição.

-Amigo, tenho que te dar os parabéns! – falei a ele, ao me aproximar.

Conferindo mais de perto os detalhes, era visível o apuro que o colega havia dispensado na elaboração da fantasia. A maquiagem, provavelmente de látex, era muito realista, e os adereços bastante parecidos com os utilizados no filme.

-Obrigado. A sua também ficou incrível – disse ele. Sua voz indicava alguém um pouco mais velho, o que era raro naquele tipo de recreação, dominada pelos jovens, o que me admirou ainda mais.

-É a primeira vez que te vejo aqui. Qual o seu nome? – perguntei, depois de me apresentar.

-Freddy.

Não entendi se ele estava dando o nome real ou o fictício. Nesse momento fiquei um pouco constrangido, pois senti que eu estava estragando o clima ao perguntar sobre a pessoa real debaixo da máscara. O maior prazer dos imitadores era justamente viver uma vida diferente naqueles momentos. Então desconversei, fiz mais um elogio e me distanciei, ainda curioso para saber como ele fizera aquela fantasia ficar tão perfeita.

Só fui vê-lo novamente na hora da premiação, no palco, onde injustamente ele recebeu apenas uma menção honrosa, ficando atrás de mim na classificação.

-Parabéns! – disse ele, ao me reencontrar.

-Você merecia vencer! – falei, sinceramente, e nos despedimos, sem que eu entrasse mais em sua privacidade. Provavelmente nos veríamos no ano seguinte, naquele mesmo local.

Tempos depois, quando eu já pensava na minha futura fantasia, voltei a encontrar Freddy. Avistei-o dentro de um ônibus, e ele estava caracterizado como no evento. Na verdade apenas parcialmente caracterizado, pois não poderia andar por aí com as garras afiadas na mão. Mas de resto, estava tudo nele: a maquiagem, o chapéu e a característica blusa com listras verdes e vermelhas.

Tentei lembrar se havia alguma convenção na cidade marcada para aquela data, decidindo se eu deveria ou não me aproximar dele para conversar. Porém, logo vi que eu tinha perdido a chance, assim que ele se levantou e desceu no ponto seguinte. E pela janela observei, impressionado, que ele caminhava justamente para um grande hospital, conhecido pelo tratamento de pessoas queimadas.

Foi bem mais tarde que descobri: aquele pobre homem estava indo em sua consulta mensal. Ele havia encontrado, na fantasia de monstro do cinema, um modo de poder sair na rua sem ser evitado, e sim admirado, pelas terríveis cicatrizes - reais - que cobriam todo o seu corpo.

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