A placa sobre a minha mesa dizia:
investigador particular. Depois de tantos anos, eu já me sentia parte daquele
escritório e colado àquela cadeira. Não entrava um cliente novo há algum tempo,
e eu não tinha pressa para voltar a algum caso em aberto. Portanto, foi com
surpresa que ouvi as batidas na porta.
-Detetive Lacoste? Preciso
encontrar meu filho Henry, que está desaparecido.
Falei ao velho que ele tinha
vindo ao lugar certo, e anotei todas as informações que pude. Por muito tempo
eu havia sido um homem frio e cínico, mas havia algo naquele senhor, uma
espécie de tristeza emanando dos seus olhos, que me motivaram a querer
solucionar logo o caso.
Comecei a investigação por uma
lista de lugares que o tal Henry frequentava: uma pizzaria, o cinema Odeon, as
galerias de arte da rua XV. Falei com várias pessoas que encontrei, anotando
detalhes que poderiam ser importantes, e algumas tinham vagas memórias do homem
que eu procurava.
Na praça do Imperador obtive uma
das maiores pistas. Diante da fonte, conheci Marta - uma mulher que, ao me
ouvir falar de Henry, se encheu de lágrimas.
-Oh, eu o amo demais, mas ele se
foi há muito tempo. Foi neste lugar que nos vimos pela última vez.
Na parede do escritório fui
montando um mapa dos lugares por onde ele havia passado, com fotos das pessoas que
conheceu, para criar um retrato fiel daquele homem sobre quem eu só ouvia
falar.
Semanas depois, o velho voltou
para saber dos progressos.
-Não há muito ainda – expliquei.
Ele notou o painel na parede, e vendo
que aqueles nomes lhe eram familiares, deu mais uma dica.
-Sabe, quando Henry era criança,
ele gostava muito do parque de diversões da praia. Ficava tão encantado quando
eu o levava lá, principalmente na roda gigante. Depois que cresceu, foi se
tornando cada vez mais distante de todos. Não me procurava mais...
O velho saiu emocionado com as lembranças
que vieram à tona. Novamente eu me sentia pressionado a saber o que havia
acontecido com seu filho.
Fui ao parque de diversões e
comprei um ingresso. Era surpreendente saber que aquele lugar ainda estava
aberto, pois era muito antigo. Passei pelo carrossel, com seus alegres
cavalinhos de asas, e fui tendo memórias do tempo em que eu mesmo, quando
criança, frequentava o parque. A roda gigante estava lá, alta, com as luzes
piscando, mas parecia um pouco menor do que aquela das minhas recordações.
Resolvi dar uma volta nela, para
ver a cidade com o olhar do jovem Henry e tentar compreender um pouco mais sobre
ele. Quando as travas de metal se fecharam em meu colo e a cadeira começou a
subir, senti aquela velha sensação infantil, num misto de medo e alegria. Mas o
temor sumiu quando, suspenso muitos metros no alto, pude ver toda a cidade. De
um lado estava o mar, com as ondas criando belos desenhos de espuma. Do outro
avistavam-se os prédios, as ruas, as pessoas do tamanho de formigas. Lá em cima
só chegavam alguns sons do parque, como risos de crianças e a música dos
brinquedos. E foi parado lá em cima, naquela paz reconfortante, que tudo aconteceu.
Espantado, só então percebi que,
durante todo o tempo, havia um estranho ao meu lado. Ele também olhava
serenamente, do alto da roda gigante, a bela paisagem.
- Mas, o que é isso? – perguntei.
– Como chegou aqui?
Nunca pensei que veria um
fantasma, muito menos em um lugar de onde eu não poderia fugir. Mas mantendo a
calma, falei:
-Henry, é você?
Porém, de alguma forma, eu já
sabia a resposta. Não, aquele ainda não era o homem que eu procurava.
Ele sorriu para mim, e só então reconheci
seus olhos. Aquele era o próprio pai de Henry, meu cliente, ainda jovem, que
finalmente falou:
-Te procurei tanto, meu filho.
Lá de baixo, diante da
bilheteria, Marta olhava para nós.
-Vamos, sua mãe também te espera.
E me envolveu em um abraço
apertado e quente, como fazia quando éramos todos vivos.
Muito bom, gostei demais. Parabéns!
ResponderExcluirOMG! Mind blow! Cara! Muito bom mesmo. Eu estava todo orgulhoso achando que tinha matado o final na metade do texto. Tolinho, eu!
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