domingo, julho 05, 2015

O Desaparecido (L.F.Riesemberg)

A placa sobre a minha mesa dizia: investigador particular. Depois de tantos anos, eu já me sentia parte daquele escritório e colado àquela cadeira. Não entrava um cliente novo há algum tempo, e eu não tinha pressa para voltar a algum caso em aberto. Portanto, foi com surpresa que ouvi as batidas na porta.
-Detetive Lacoste? Preciso encontrar meu filho Henry, que está desaparecido.
Falei ao velho que ele tinha vindo ao lugar certo, e anotei todas as informações que pude. Por muito tempo eu havia sido um homem frio e cínico, mas havia algo naquele senhor, uma espécie de tristeza emanando dos seus olhos, que me motivaram a querer solucionar logo o caso.
Comecei a investigação por uma lista de lugares que o tal Henry frequentava: uma pizzaria, o cinema Odeon, as galerias de arte da rua XV. Falei com várias pessoas que encontrei, anotando detalhes que poderiam ser importantes, e algumas tinham vagas memórias do homem que eu procurava.
Na praça do Imperador obtive uma das maiores pistas. Diante da fonte, conheci Marta - uma mulher que, ao me ouvir falar de Henry, se encheu de lágrimas.
-Oh, eu o amo demais, mas ele se foi há muito tempo. Foi neste lugar que nos vimos pela última vez.
Na parede do escritório fui montando um mapa dos lugares por onde ele havia passado, com fotos das pessoas que conheceu, para criar um retrato fiel daquele homem sobre quem eu só ouvia falar.
Semanas depois, o velho voltou para saber dos progressos.
-Não há muito ainda – expliquei.
Ele notou o painel na parede, e vendo que aqueles nomes lhe eram familiares, deu mais uma dica.
-Sabe, quando Henry era criança, ele gostava muito do parque de diversões da praia. Ficava tão encantado quando eu o levava lá, principalmente na roda gigante. Depois que cresceu, foi se tornando cada vez mais distante de todos. Não me procurava mais...
O velho saiu emocionado com as lembranças que vieram à tona. Novamente eu me sentia pressionado a saber o que havia acontecido com seu filho.
Fui ao parque de diversões e comprei um ingresso. Era surpreendente saber que aquele lugar ainda estava aberto, pois era muito antigo. Passei pelo carrossel, com seus alegres cavalinhos de asas, e fui tendo memórias do tempo em que eu mesmo, quando criança, frequentava o parque. A roda gigante estava lá, alta, com as luzes piscando, mas parecia um pouco menor do que aquela das minhas recordações.
Resolvi dar uma volta nela, para ver a cidade com o olhar do jovem Henry e tentar compreender um pouco mais sobre ele. Quando as travas de metal se fecharam em meu colo e a cadeira começou a subir, senti aquela velha sensação infantil, num misto de medo e alegria. Mas o temor sumiu quando, suspenso muitos metros no alto, pude ver toda a cidade. De um lado estava o mar, com as ondas criando belos desenhos de espuma. Do outro avistavam-se os prédios, as ruas, as pessoas do tamanho de formigas. Lá em cima só chegavam alguns sons do parque, como risos de crianças e a música dos brinquedos. E foi parado lá em cima, naquela paz reconfortante, que tudo aconteceu.
Espantado, só então percebi que, durante todo o tempo, havia um estranho ao meu lado. Ele também olhava serenamente, do alto da roda gigante, a bela paisagem.
- Mas, o que é isso? – perguntei. – Como chegou aqui?
Nunca pensei que veria um fantasma, muito menos em um lugar de onde eu não poderia fugir. Mas mantendo a calma, falei:
-Henry, é você?
Porém, de alguma forma, eu já sabia a resposta. Não, aquele ainda não era o homem que eu procurava.
Ele sorriu para mim, e só então reconheci seus olhos. Aquele era o próprio pai de Henry, meu cliente, ainda jovem, que finalmente falou:
-Te procurei tanto, meu filho.
Lá de baixo, diante da bilheteria, Marta olhava para nós.
-Vamos, sua mãe também te espera.
E me envolveu em um abraço apertado e quente, como fazia quando éramos todos vivos.

2 comentários:

  1. Gabriel Riesembergjulho 05, 2015 5:13 PM

    Muito bom, gostei demais. Parabéns!

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  2. OMG! Mind blow! Cara! Muito bom mesmo. Eu estava todo orgulhoso achando que tinha matado o final na metade do texto. Tolinho, eu!

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