terça-feira, junho 09, 2015

A Corrida de Rolimãs (L.F.Riesemberg)




Thomas sentou em seu carrinho de madeira e desceu o quarteirão. O vento batia no rosto, provocando uma sensação agradável naquela manhã de sábado.
Os rolamentos produziam um grande atrito com a calçada, causando um ruído alto e desenhando longos riscos brancos por onde passavam. Na metade do caminho o veículo atingiu uma velocidade considerável, obrigando o pequeno condutor a puxar o freio. O pedaço de madeira tocou o chão e a aceleração foi diminuindo até o carrinho parar, quando chegou à esquina.
O menino permaneceu sentado esperando Carlos, que logo concluiu a descida e estacionou ao seu lado. Aquela tinha sido só a primeira corrida das férias. Levantaram-se e cada um carregou seu veículo até o alto novamente, para começar tudo outra vez.
-Quanto tempo a gente leva para descer? – perguntou Thomas.
-Meu recorde é de 15,3 segundos – disse Carlos, orgulhoso.
Voltaram ao ponto de largada, no alto da rua, e alinharam os carrinhos lado a lado, prontos para mais uma descida. Mas ambos sabiam que não era uma competição. O prazer estava no percurso, não na chegada.
-Quantas vezes a gente já desceu essa rampa, se contarmos todas, desde o começo?
-Desde que tínhamos sete anos?
Carlos fez um difícil cálculo em sua cabeça, e respondeu:
-Umas dez mil vezes.
-Então quanto tempo da nossa vida já passamos fazendo isso?
A conta foi feita na calçada, com um pedaço de tijolo. Quinze segundos vezes dez mil.
-Quarenta e uma horas!
-Puxa, já podíamos ter ido bem longe viajando tudo isso!
-Sim! Aposto que dava para ir até a Austrália.
Olharam a longa descida que os aguardava.
-Pena que chegamos tão rápido lá no fim da rua, não? – disse Thomas.
Carlos não parou para pensar. Apenas pegou impulso com os pés e começou a descer a pista, aos gritos de “uhuuu”.
Thomas ficou olhando o amigo indo em sua frente, e teve uma vontade: a de que o tempo simplesmente parasse enquanto estivessem descendo, para que aquela alegria durasse pra sempre.
***
Passados muitos anos, Thomas e Carlos reencontram-se e acham os velhos carrinhos, quebrados e cobertos de poeira. Seus olhos se fecham, e os dois homens voltam àquela sensação de pilotá-los ladeira abaixo, com o vento batendo no rosto.
 -Que pena. O tempo não parou como eu queria – disse Thomas.
-Não... – disse o amigo. - ...mas eu notei algo. Enquanto descíamos correndo aquela pista... durante aqueles quinze segundos... ao contrário de tudo ao nosso redor, o tempo parecia não ter qualquer efeito sobre a gente. Nós não envelhecíamos enquanto estávamos sentados nestes carrinhos de rolimã!
-Pois é... – diz o amigo, tristemente. -Quem me dera ter descido aquela rampa mais vezes!

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