Thomas sentou em seu carrinho de madeira e desceu o
quarteirão. O vento batia no rosto, provocando uma sensação agradável naquela manhã
de sábado.
Os rolamentos produziam um grande atrito com a calçada, causando
um ruído alto e desenhando longos riscos brancos por onde passavam. Na metade
do caminho o veículo atingiu uma velocidade considerável, obrigando o pequeno
condutor a puxar o freio. O pedaço de madeira tocou o chão e a aceleração foi diminuindo
até o carrinho parar, quando chegou à esquina.
O menino permaneceu sentado esperando Carlos, que logo
concluiu a descida e estacionou ao seu lado. Aquela tinha sido só a primeira
corrida das férias. Levantaram-se e cada um carregou seu veículo até o alto novamente,
para começar tudo outra vez.
-Quanto tempo a gente leva para descer? – perguntou
Thomas.
-Meu recorde é de 15,3 segundos – disse Carlos,
orgulhoso.
Voltaram ao ponto de largada, no alto da rua, e alinharam
os carrinhos lado a lado, prontos para mais uma descida. Mas ambos sabiam que
não era uma competição. O prazer estava no percurso, não na chegada.
-Quantas vezes a gente já desceu essa rampa, se contarmos
todas, desde o começo?
-Desde que tínhamos sete anos?
Carlos fez um difícil cálculo em sua cabeça, e respondeu:
-Umas dez mil vezes.
-Então quanto tempo da nossa vida já passamos fazendo
isso?
A conta foi feita na calçada, com um pedaço de tijolo.
Quinze segundos vezes dez mil.
-Quarenta e uma horas!
-Puxa, já podíamos ter ido bem longe viajando tudo isso!
-Sim! Aposto que dava para ir até a Austrália.
Olharam a longa descida que os aguardava.
-Pena que chegamos tão rápido lá no fim da rua, não? –
disse Thomas.
Carlos não parou para pensar. Apenas pegou impulso com os
pés e começou a descer a pista, aos gritos de “uhuuu”.
Thomas ficou olhando o amigo indo em sua frente, e teve
uma vontade: a de que o tempo simplesmente parasse enquanto estivessem descendo,
para que aquela alegria durasse pra sempre.
***
Passados muitos anos, Thomas e Carlos reencontram-se e acham
os velhos carrinhos, quebrados e cobertos de poeira. Seus olhos se fecham, e os
dois homens voltam àquela sensação de pilotá-los ladeira abaixo, com o vento
batendo no rosto.
-Que pena. O tempo
não parou como eu queria – disse Thomas.
-Não... – disse o amigo. - ...mas eu notei algo. Enquanto
descíamos correndo aquela pista... durante aqueles quinze segundos... ao
contrário de tudo ao nosso redor, o tempo parecia não ter qualquer efeito sobre
a gente. Nós não envelhecíamos enquanto estávamos sentados nestes carrinhos de
rolimã!
-Pois é... – diz o amigo, tristemente. -Quem me dera ter
descido aquela rampa mais vezes!
Que estória linda! Lembrei de quando eu brincava de carrinho de rolimã.
ResponderExcluirQue bom, Carlos! Era uma sensação incrível, não?
ResponderExcluirbrabo de mais representou 👏👏
ResponderExcluiro seu texto foi usado na prova amei a historia
ResponderExcluirusei no meu texto de redaçao
ResponderExcluirnao sei essa
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