O vinhedo de Dom Silvano era o mais famoso do
sul do país, e aquela safra estava sendo a melhor das melhores. As
videiras estavam carregadas com a uva mais doce das últimas décadas, graças ao
clima generoso que beneficiou a colheita naquela estação.
Mercadores vinham de além das fronteiras e
levavam quantas garrafas conseguissem carregar em suas mulas. Os lucros já
haviam enchido de ouro os bolsos e os cofres do produtor, a ponto dele não
precisar se preocupar com os próximos dez invernos.
Apesar de se vangloriar pela qualidade do seu
produto, D. Silvano não tinha revelado a ninguém a sua melhor reserva. O fino
da produção havia sido separado em três dúzias de garrafas, e elas estavam
escondidas em uma câmera secreta, totalmente escura, sob o chão do vinhedo,
onde mal cabia um homem em pé. Seriam guardados para uma ocasião especial, como
o casamento da filha, ou o nascimento do primeiro neto.
Os empregados do vinhedo não sabiam do
esconderijo do patrão, mas não demorou muito até que um deles abrisse por
engano aquela porta e descobrisse a mina de ouro. Resolveu abrir uma garrafa e
comprovou o sabor mais doce, mais perfeito que um vinho já havia tido.
Sem demora, pegou duas garrafas e levou
consigo, ao anoitecer.
No dia seguinte, D. Silvano deu pela falta e
ficou desconfiado de todos os empregados.
Sem conseguir descobrir o autor do furto,
resolveu criar uma armadilha para assustar aqueles que porventura tentassem
surrupiar outras garrafas.
Mandou um artista pintar uma placa com a
imagem mais assustadora do demônio que ele conseguisse pensar. Semanas depois,
estava instalado o painel no gabinete secreto.
Alguns dias transcorreram normalmente, sem o
desaparecimento de qualquer garrafa do esconderijo. Porém, semanas depois, algo
aconteceu.
No fim do expediente, ninguém encontrava
José, um dos trabalhadores que engarrafavam o vinho. Procuraram por todos os
cantos, até que o produtor o achou.
Estava morto na cabine do diabo. Tinha ido
roubar mais garrafas do vinho especial, e ao ver a horrorífica imagem sobre
elas, teve um fulminante ataque do coração.
Desde então, nunca ninguém mais quis roubar
nenhuma das garrafas especiais do vinhedo. Aquela reserva especial ficou
conhecida como o vinho do diabo, e hoje em dia qualquer colecionador venderia a
alma para ter uma delas.
Parece com a estória contada pelo produtores do vinho chileno Casileiro Del Diablo. Tem alguma relação?
ResponderExcluirSim, me baseei na história do Casillero del Diablo.
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