domingo, maio 19, 2013

O Vinho do Diabo (L.F. Riesemberg)



             



O vinhedo de Dom Silvano era o mais famoso do sul do país, e aquela safra estava sendo a melhor das melhores.  As videiras estavam carregadas com a uva mais doce das últimas décadas, graças ao clima generoso que beneficiou a colheita naquela estação.
Mercadores vinham de além das fronteiras e levavam quantas garrafas conseguissem carregar em suas mulas. Os lucros já haviam enchido de ouro os bolsos e os cofres do produtor, a ponto dele não precisar se preocupar com os próximos dez invernos.
Apesar de se vangloriar pela qualidade do seu produto, D. Silvano não tinha revelado a ninguém a sua melhor reserva. O fino da produção havia sido separado em três dúzias de garrafas, e elas estavam escondidas em uma câmera secreta, totalmente escura, sob o chão do vinhedo, onde mal cabia um homem em pé. Seriam guardados para uma ocasião especial, como o casamento da filha, ou o nascimento do primeiro neto.
Os empregados do vinhedo não sabiam do esconderijo do patrão, mas não demorou muito até que um deles abrisse por engano aquela porta e descobrisse a mina de ouro. Resolveu abrir uma garrafa e comprovou o sabor mais doce, mais perfeito que um vinho já havia tido.
Sem demora, pegou duas garrafas e levou consigo, ao anoitecer.
No dia seguinte, D. Silvano deu pela falta e ficou desconfiado de todos os empregados.
Sem conseguir descobrir o autor do furto, resolveu criar uma armadilha para assustar aqueles que porventura tentassem surrupiar outras garrafas.
Mandou um artista pintar uma placa com a imagem mais assustadora do demônio que ele conseguisse pensar. Semanas depois, estava instalado o painel no gabinete secreto.
Alguns dias transcorreram normalmente, sem o desaparecimento de qualquer garrafa do esconderijo. Porém, semanas depois, algo aconteceu.
No fim do expediente, ninguém encontrava José, um dos trabalhadores que engarrafavam o vinho. Procuraram por todos os cantos, até que o produtor o achou.
Estava morto na cabine do diabo. Tinha ido roubar mais garrafas do vinho especial, e ao ver a horrorífica imagem sobre elas, teve um fulminante ataque do coração.
Desde então, nunca ninguém mais quis roubar nenhuma das garrafas especiais do vinhedo. Aquela reserva especial ficou conhecida como o vinho do diabo, e hoje em dia qualquer colecionador venderia a alma para ter uma delas.

2 comentários:

  1. Parece com a estória contada pelo produtores do vinho chileno Casileiro Del Diablo. Tem alguma relação?

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  2. Sim, me baseei na história do Casillero del Diablo.

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