Sob a
luz brilhante de um poste, Gia tomou a forma de libélula e pousou no ombro de
um jovem que ia apressado pela calçada. Talvez assim ele lembrasse que, quando
criança, as confundia com pequenos helicópteros. Mas o rapaz apenas afastou o
inseto com a mão e continuou a andar, sem comover-se com o passado. Em sua
mente só havia espaço para uma coisa: a festa aonde se dirigia.
Então
a fada ficou invisível e desfez o laço do tênis que ele calçava. Agachado para
amarrá-lo, ela lhe assoprou uma figurinha que estava na calçada, uma das poucas
que faltavam em seu velho álbum. Ele ia guardá-la, mas desistiu. Não era mais criança.
E continuou o seu caminho.
Insistente,
Gia adiantou-se até a confeitaria, por onde o adolescente logo iria passar, e empurrou
para a rua o cheiro do bolo de milho que ele tanto gostava. Ele sentiu aquele conhecido
aroma e formou-se um misto de água na boca com recordações da infância. Chegou
a pegar o dinheiro que levava no bolso, pensando em comprar uma fatia, porém era
para gastar na festa, e voltou ao seu caminho.
“Sabe
aquele filme que você e seus pais adoravam assistir juntos? Vai passar hoje na
TV!”, disse ela em seus ouvidos. Mas ele não voltou atrás. A festa era mais
importante.
De
repente, uma criatura saiu das sombras de um beco e precipitou-se sobre os
dois. “Desista, ele é meu”, falou Morso, com sua voz cavernosa. Gia não lhe deu
ouvidos. Haveria de convencer o menino a voltar para casa. “Ele não é mais um
menino”, disse o demônio.
“Ele
só tem quinze anos”, rebateu Gia.
Morso
riu. “Tem idade o bastante”, falou. E então foi a sua vez de sussurrar aos
ouvidos do rapaz. “A festa vai ser quente, não? Garotas, bebida e tudo mais!”.
O jovem
sorriu com aquelas promessas, passando a apertar ainda mais o passo. Era a
primeira vez que saía sozinho à noite e sentia-se um homem. É claro que teve que esconder dos pais algumas coisas, mas
já era hora de deixar de ser menino e começar a agir feito adulto.
Gia
fez com que ele olhasse para uma família feliz que atravessava a rua. Um sorridente
garotinho andava de mãos dadas com os pais, como se fosse o elo daquele casal.
“Lembre-se de quando era você!”, ela sussurrou. “As brincadeiras, as cabanas de
lençol na sala, as tortas de maçã, as histórias que contavam para você dormir,
e como eles corriam te salvar do monstro do armário, no meio da noite”.
O
garoto vislumbrou, por um instante, seus alegres anos de infância. Mas logo
continuou seu caminho. Nada parecia interferir em sua decisão. “Por que não me
ouve mais?”, perguntou a pobre fada, empalidecendo de desânimo.
“É
assim mesmo”, disse Morso. “Quando chega essa idade, eles não querem ser
crianças. Só desejam sair de casa, ter experiências novas, longe dos pais”.
Gia
enxugou uma lágrima. “Por que você faz isso? Por que simplesmente não me ajuda
a tirá-lo deste caminho? Você bem sabe o que o espera!”.
Morso
sentou-se ao lado dela no meio-fio. “Gia, eu não sou um demônio, como você
pensa. Eu quero tanto o bem dele quanto você. Mas agimos diferente”.
“Como
pode você querer o bem dele, se o empurra para uma vida de ilusões e sofrimento?”,
disse a fada.
“Oh,
talvez por um tempo, sim”, respondeu Morso. “Mas eu sou o anjo do
arrependimento, e estarei ao lado dele quando descobrir que este caminho não é
bom. Algumas pessoas simplesmente precisam passar por isso. E então será a sua
vez de surgir com toda a força, trazendo saudades do passado para ele perceber
que aquilo é que o fazia feliz de verdade”.
“Mas
e se isso acontecer tarde demais?”, perguntou Gia.
Morso
suspirou. “É um risco que todos eles querem correr”.
Gia
viu que o garoto estava chegando ao seu destino, e voltou a bater as asas. “Não
posso desistir. Vou tentar mais uma vez”, disse, e saiu voando. Morso apenas
sacudiu a cabeça, descrente.
Perto
dali, o rapaz ia empurrar a porta para entrar na balada. A música vinha alta lá
de dentro. Ele encheu os pulmões de ar, pegando coragem para ingressar naquele mundo e
deixar sua inocência para trás. Mas algo dentro dele insistia em fazê-lo pensar
que aquilo era errado, e que ele não deveria estar ali.
A estória em si é ate bonita, mas a achei inconclusiva, pois, no meu modestíssimo entendimento, creio que ainda poderia ter-lhe sido dado um melhor desfecho!!!
ResponderExcluirOlá! Você lê muitos livros de contos fantásticos? Estou procurando um específico para fazer um trabalho e não encontro! Eu já li esse livro a um tempão, mas esqueci o nome. Vou falar de alguns contos que tem nele, se souber o nome me fala por gentileza? Vou citar três: um havia um casal de namorados em Amisterdã, os dois não tinham dinheiro para comer nada e no final do conto eles se transformavam em um pássaro e uma borboleta, no segundo um monte de pessoas ficavam presas no cimento de uma calçada e no terceiro um homem virava uma estátua. Era isso então, obrigada se puder me ajudar!
ResponderExcluirOlá sou Pablo gostei mt vou colocar no
ResponderExcluirwww.jornaldopablo.com
Parabéns!
ResponderExcluirWOW ! Cara esse conto é incrivel , parabéns <3
ResponderExcluirLinda história.
ResponderExcluirAmei wow
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