Após
assistir à ótima série True Detective, fiquei muito interessado pelo livro O
Rei de Amarelo, de Robert W. Chambers, que teria servido de inspiração para
alguns elementos da trama. Publicada em 1895, a obra reúne dez contos, dos
quais somente os quatro primeiros fazem menção ao personagem título. Antes de
mais nada, quero frisar que, para se apreciar o livro, é indispensável ler a
edição da Intrínseca (e não estou ganhando nada pela publicidade), já que há
uma grande quantidade de notas explicativas no fim de cada história, que tornam
a leitura muito mais interessante, sem mencionar a completíssima introdução
assinada por Carlos Orsi, um especialista em Chambers. Vamos, portanto, ao que
interessa:
O
Reparador de Reputações
Um
dos contos mais longos, passa-se em uma Nova Iorque distópica, onde o governo
implantou câmaras públicas de suicídio nas praças. Acompanhamos a rotina do
protagonista, que leu o texto da peça maldita O Rei de Amarelo, e parece ir
enlouquecendo. Confesso que não gostei muito dessa história, mas ela é
importante por introduzir o universo criado por Chambers. Como foi o conto que
me apresentou ao trabalho do autor, também me chamou a atenção o fato de
parecer bastante moderno para um texto do século XIX. No fim das contas, ele
causa bastante estranheza e, de certo modo, assusta. É o que mais tem a
presença dos elementos do rei de amarelo.
A
Máscara
Contrariando
a opinião geral, que prefere outro conto do livro, este aqui foi o que mais
gostei. Conta sobre um jovem artista que descobre uma fórmula para transformar
qualquer coisa em uma estátua de mármore. O final é surpreendente.
No
Pátio do Dragão
Um
homem que leu a peça O Rei Amarelo começa a ser perseguido por um estranho nas
ruas. Tem um perfeito clima de paranóia, e um final que me lembrou uma cena de
True Detective, quando Rust contempla uma visão no último episódio.
O
Emblema Amarelo
Este
é o que a maioria considera como o melhor do livro, e talvez seja mesmo. Trata da
relação entre um pintor e a sua jovem modelo. O clima vai pesando quando eles
descrevem alguns pesadelos que andam tendo, e principalmente quando entra em
cena um misterioso personagem que lembra muito os vampiros dos livros antigos –
sem romantismo, apenas o mal encarnado. O rei de amarelo aparece bem no final, concluindo
o caos e a desgraça anunciados pelo personagem que citei há pouco.
E
então acabam as histórias do livro envolvendo o misterioso rei. Com apenas
quatro contos Chambers criou um mundo fantástico que gera muitas discussões. Pouco
se sabe sobre a peça maldita, mas ela sugere inúmeras possibilidades e isto tem
fascinado as pessoas. Um lance muito legal do autor é fazer ligações entre os
quatro contos. O personagem principal de um aparece como coadjuvante em outro;
o cenário de uma história é visitado rapidamente em outra, etc. E no fim das
contas, ficamos sabendo muito pouco sobre a tal peça, o rei amarelo e Carcosa,
mas sabemos que quem a leu, endoidou de vez. E como todos os contos são narrados
em primeira pessoa, acompanhamos a descida à insanidade através de suas próprias
palavras – e é aí que o autor oferece seus melhores momentos , utilizando a
linguagem para criar uma sensação única no leitor, de confusão e insanidade.
O
livro ainda conta com outros seis contos que nada se referem à peça citada,
sendo que alguns contêm elementos fantásticos, enquanto outros são apenas histórias
românticas (e ainda assim, há interessantes ligações que podem ser feitas com as anteriores). Enfim, tudo o que Chambers escreveu sobre o rei amarelo se encontra
em apenas quatro contos, que não estão entre os melhores que eu já li, mas que
têm grande importância pelo fato de gerar discussões e provocar o entusiasmo de
milhares de leitores ao redor do mundo, desde a época em que foram lançados.
L.F.Riesemberg
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