sexta-feira, junho 19, 2015
A Garota do Metrô (L.F.Riesemberg)
Os dois sentaram-se lado a lado no assento duplo. Compenetrados que estavam em seus livros, quase não notaram que coincidiam de ler o mesmo romance.
Foi ela quem notou e quebrou o silêncio:
-Desculpe, mas eu tenho que perguntar: está gostando do livro?
Dave olhou surpreso. Era uma moça linda falando com ele.
-O que? Nossa! Você está lendo o mesmo livro que eu? – perguntou.
-Devem ser uma coincidência muito rara... – disse ela. – E então, está gostando?
-Oh, muito. É uma história bem intensa, não? E você?
-É, me identifiquei com a heroína. Não vejo a hora de saber o que vai acontecer com ela.
Ele sorriu, tímido.
-Pois quando eu gosto muito de um livro, fico triste de chegar ao final. Ainda estou na metade, e já sinto saudades antecipadas.
-Você pode reler depois – disse ela.
-Não é a mesma coisa. Só a primeira vez é mágica.
-Sim, mas sempre haverá outros livros, não?
-Ah, certamente.
Dave não confessou a ela, mas gostava daquele sentimento que mencionou, de sentir saudades de algo que ainda não tinha vivido. Para ele, isso era algo sublime.
Com o canto dos olhos, ele ficou olhando para ela. Era linda, simpática e tinha bom gosto. Não podia ser mero acaso terem se conhecido daquele jeito. Mas logo ele chegaria à plataforma desejada, e ela já tinha voltado a se afundar no livro. Ele precisava continuar a conversa, ou a perderia para sempre.
O metrô avançava veloz, e cada segundo era um a menos para aproveitar aquela chance. Dave estava inquieto, e a garota reparou.
-Quer saber? – disse ela. –Por que não trocamos os livros? São iguais, não?
-O que? Ah, sim, claro! Que legal! – respondeu ele, um tanto confuso. Ele não sabia o que falar, mas obviamente estava feliz em fazer aquilo.
Ela tirou um lápis da bolsa.
-Vou anotar meu nome e telefone aqui, para podermos destrocar mais tarde, tudo bem?
Só agora ele entendia. Como pôde não ter esta ideia?
Ela escreveu na última página, e trocaram os livros.
-Vou descer aqui – disse ela, assim que o vagão parou. -Me liga.
Ao sair, ela deu um último e adorável sorriso. Ele continuou a viagem, com o livro dela contra o peito. Aquilo tinha sido uma das coisas mais fantásticas que já haviam lhe acontecido. “Como pode algo ser tão simples, e tão mágico?”, pensou.
Mais adiante ele também saltou, ainda nas nuvens com o que acabara de ocorrer. Sua atenção só foi quebrada por um casal que passou discutindo pelo corredor e esbarrou em seu ombro. Alguns passos à frente ele viu uma mulher chorando em um dos bancos da estação, enquanto o namorado mantinha a cara fechada ao seu lado.
Ele andou mais um pouco, até que viu na parede aquela pequena caixa amarela, sua velha conhecida. “Mini-biblioteca do metrô”, dizia. Ele olhou para o livro em suas mãos e pensou nos capítulos que ainda faltava ler.
“Pegue um livro, e quando terminar a leitura devolva-o em qualquer estação”, instruía a biblioteca. Mas os livros emprestados nunca mais voltavam.
Ele, que preferia a imaginação à realidade, hesitou um pouco, depois concluiu:
“Desculpe, mas nenhum amor é tão inesquecível quanto os que só vivem em nossos sonhos”. E, docemente, depositou o livro na pequena caixa amarela, para que outra pessoa o levasse. Nunca saberia que rumos aquela história poderia ter tomado. Mas em seus pensamentos, até o fim de sua vida, os dois teriam sido felizes para sempre.
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Muito bom. Entre a lenda e o fato, imprima a lenda. (Do filme "O homem que matou o facínora").
ResponderExcluirEu não achei o final legítimo :/
ResponderExcluirEle desistiu de conhecer a fundo uma garota linda e inteligente, amante de livros, por que viu uma casal discutindo passando por ele ? '-'
Pra mim ele usou a fantasia pra justificar sua insegurança e perdeu a chance de viver uma história, parte contada por ele. -.-
Acho que teria ficado melhor se tivesse explorado a devolução do livro alugado como um peso, com ele se explicando pra alguma autoridade do trem que aquele livro não era do trem e um final fantástico baseado numa resposta imprevisível da autoriade.
Prezado L.F., gostei do conto em partes e sou obrigado a concordar com o leitor Henrique Mesquita; achei que o final da estória ficou inconclusiva, pois creio que poderia ter havido outros desfechos para a mesma! Talvez, um dos desfechos possíveis teria sido o passageiro do metrô ter anotado em um pequeno pedaço de papel o telefone da moça, e tê-la reencontrado novamente, para trocar novas experiências sobre a continuidade da leitura, enfim...
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